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Justiça reconhece violações contra mulheres em reparação da Samarco e determina ajustes nos cadastros pela Fundação Renova.

A Justiça Federal reconheceu as graves violações enfrentadas pelas mulheres afetadas pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco em 2015. Em uma decisão emitida pelo juiz Vinicius Cobucci, do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6), foi determinado um ajuste nos cadastros para permitir que as mulheres possam reivindicar acesso aos programas de auxílio financeiro e indenização gerenciados pela Fundação Renova.

As instituições de Justiça, incluindo o Ministério Público Federal, Ministério Público de Minas Gerais, Ministério Público do Espírito Santo, Defensoria Pública da União e defensorias públicas dos dois estados, moveram uma ação civil pública destacando o tratamento diferenciado baseado no gênero durante o processo reparatório conduzido pelas empresas Samarco, Vale e BHP Billiton, através da Fundação Renova. As instituições também buscam a fixação de uma indenização por danos morais coletivos.

O juiz Cobucci apontou que a metodologia de cadastramento adotada pela Fundação Renova foi burocrática, excludente e tendenciosa, colocando as mulheres em uma posição de subordinação em relação aos homens. Ele enfatizou a invisibilização das contribuições econômicas e sociais das mulheres devido a um modelo patriarcal que centralizou as informações na figura do “chefe de família”.

A falta de participação significativa das mulheres nas oitivas realizadas pela Fundação Renova e a exigência de autorização dos maridos para acessar e ajustar os dados também foram apontadas como evidências das violações enfrentadas pelas mulheres afetadas pelo desastre. A ação civil pública destaca a necessidade de ações afirmativas com recortes de gênero para combater as desigualdades presentes no processo reparatório.

Além disso, a decisão de Cobucci envolveu a determinação de um plano de adequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) por parte da Fundação Renova, bem como a proibição da exigência de constituição de advogado ou defensor público para acesso aos programas de indenização e auxílio emergencial. A desconstituição da empresa Kearney como perita do juízo e a análise das medidas tomadas no tratamento de informações também foram destaque na decisão do magistrado.

A tragédia do rompimento da barragem da Samarco em 2015 continua a gerar desafios e polêmicas no processo de reparação dos danos causados. Com mais de 85 mil processos tramitando no Judiciário brasileiro e negociações em andamento para repactuar o acordo em busca de uma solução para esse passivo judicial, as instituições de Justiça continuam atuando em defesa das vítimas, especialmente das mulheres afetadas pela tragédia.

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