DestaqueUOL

Coluna de Taylor: O fenômeno que aprisionou gigantesco iceberg ao norte da Antártida desafia oceanógrafos e intrigados cientistas.





Iceberg preso em coluna de Taylor intriga cientistas

Iceberg preso em coluna de Taylor intriga cientistas

O fenômeno que aprisionou o maior iceberg do planeta, com 50 km de diâmetro, em pleno oceano, ao norte da Antártida, é contraintuitivo, mas conhecido há muito tempo e até hoje é um prato cheio para os oceanógrafos.

“A história do iceberg A23a é fascinante”, diz César Barbedo Rocha, especialista em dinâmica de fluidos geofísicos e pesquisador do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo). “Até onde eu sei é o primeiro registro de um iceberg tão grande nesse tipo de situação. Trata-se de um objeto exemplar para o estudo da interação de icebergs com a circulação oceânica e suas idiossincrasias.”

A jornada do A23a começou há 38 anos, em 1986, quando ele se desprendeu do continente antártico, como fazem muitos icebergs, sobretudo nesses tempos de mudanças climáticas. Imaginava-se que ele fosse seguir, como seus colegas, um deslocamento gradual para águas cada vez mais quentes, afastadas da região polar. Mas, para a grande surpresa dos cientistas, ele acabou “preso” em uma coluna de Taylor.

“As colunas de Taylor são um fenômeno intrigante e não intuitivo. A história passada de geração para geração de dinamicistas de fluidos é que G.I. Taylor —meu tataravô acadêmico— obteve matematicamente a previsão de ‘rigidez vertical’ da coluna de fluido, mas não acreditou no resultado. Ele então bolou um experimento de laboratório [em 1923] que demonstrou a existência das colunas de Taylor.”

Em termos simples, a tal coluna de Taylor, fora do laboratório, é um fenômeno gerado pela presença de uma protuberância no leito oceânico. Ela obriga a água em fluxo a contorná-la.

O CASO ESPECÍFICO

Em laboratório, é fácil simular com dispositivos giratórios e tinta num cilindro de água a formação das colunas de Taylor. Na realidade oceânica, a coisa é mais complicada. Sua estabilidade depende da dinâmica da corrente incidente na protuberância que está produzindo a coluna. Se a corrente variar, as colunas também terão variação. Se ela cessar por completo, as colunas desaparecerão.

Estando ainda em águas muito geladas, um pouco abaixo de 0°C, o A23a tem grande estabilidade. Enquanto ele seguir preso na coluna de Taylor, vai sofrer fragmentações, mas dificilmente vai degelar por inteiro. Contudo, sua estadia na “armadilha” não deve ser permanente.

“No oceano real, essas colunas não são perfeitas e também existem perturbações associadas a variações da corrente incidente”, diz Rocha.

“É mais provável, portanto, que o iceberg eventualmente escape do escoamento ao redor do Pirie Bank e seja transportado para oeste. Não é possível prever quando isso acontecerá. Pode demorar semanas, meses ou anos.” Os cientistas, naturalmente, estarão atentos a qualquer novidade.


Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo