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Ataques à democracia no Brasil e nos EUA e o papel da perspectiva afrocentrada na compreensão desses fenômenos recentes

Recentes eventos no Brasil e nos Estados Unidos, como o ataque à democracia, a invasão ao Capitólio, os assassinatos de George Floyd e de mãe Bernadete, e a eleição de presidentes declaradamente racistas, mostram a necessidade de uma perspectiva afrocentrada para entender esses fenômenos. Foi o que afirmaram Tiago Rogero, do Projeto Querino, e Nikole Hannah-Jones, do The 1619 Project, durante a abertura do 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado em São Paulo.

Lançado em 2019, o The 1619 Project faz referência ao ano em que a escravidão começou nos Estados Unidos e busca recontar a história do país a partir da perspectiva afrocentrada. Segundo Nikole, foram os negros americanos que impulsionaram as ideias revolucionárias de liberdade, valores que são fortemente valorizados pelos americanos. Ela questiona a narrativa de que a democracia foi criada pelos brancos, destacando que não pode ser considerada democracia quando mulheres e negros são excluídos. “Escravidão e Estados Unidos nasceram no mesmo dia”, afirmou Nikole.

No Brasil, o Projeto Querino também reconta o processo de Independência de uma perspectiva afrocentrada. O projeto jornalístico homenageia Manuel Raimundo Querino, intelectual brasileiro que destacou o protagonismo dos africanos e afrodescendentes na formação do país. Tiago Rogero ressalta que o apartheid no Brasil não foi instituído por leis, mas está presente na prática. Ele lembra que a primeira Constituição brasileira já excluía as pessoas negras, mesmo que fossem livres, e que a Constituição foi imposta pelo imperador Dom Pedro I.

Apesar dos avanços na legislação brasileira, como a Lei 10.639 que incluiu o ensino de história e cultura afro-brasileiras nos currículos escolares, a implementação da lei ainda encontra desafios. Pesquisa divulgada pelo Instituto Alana e Geledés Instituto da Mulher Negra revelou que sete em cada dez secretarias municipais de Educação não realizaram ações para implementação da lei. Ynaê Lopes, professora de História e consultora do Projeto Querino, destaca que a história oficial do Brasil é predominante branca, o que contribui para a perpetuação do racismo.

Ela ressalta a importância do jornalismo e da educação como ferramentas antirracistas. Segundo Ynaê, quando não se revisita a maneira como aprendemos, mantemos um status quo racista. O racismo é uma escolha cotidiana e a educação desempenha um papel importante nessa perpetuação. No Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, promovido pela Jeduca, serão discutidos temas como ataques às escolas, tecnologia, novo ensino médio e educação midiática, todos com o objetivo de analisar o papel da educação na transformação da sociedade e a relação entre o jornalismo e a educação.

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