Cid está preso há três meses e meio em um batalhão da Polícia do Exército em Brasília, suspeito de falsificar cartões de vacinação de Bolsonaro e familiares. Além disso, ele é investigado em outros casos, como o vazamento de dados sigilosos sobre a urna eletrônica e os ataques golpistas de 8 de janeiro.
Na semana passada, uma operação da Polícia Federal trouxe novos detalhes sobre a participação de Cid e de seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, na venda de joias presenteadas ao governo brasileiro e desviadas do acervo presidencial. Esse fato agravou a situação do tenente-coronel.
O novo advogado de Cid, Cezar Bittencourt, afirmou que seu cliente apenas cumpriu ordens de Bolsonaro. No entanto, militares da ativa e da reserva ouvidos pela reportagem acreditam que a expulsão de Cid do Exército é inevitável. Segundo um oficial superior, a avaliação corrente entre seus colegas é que Cid, que era considerado um ótimo militar, perdeu o rumo e extrapolou suas funções como ajudante de ordens.
A situação de Cid é descrita por um oficial como “contra-azimute”, ou seja, ele se perdeu no caminho. Essa avaliação é compartilhada por muitos militares, inclusive no Quartel General do Exército em Brasília. Segundo a bolsa de apostas informal verde-oliva, haverá “cabeças cortadas”, ou seja, militares que serão punidos.
De acordo com as leis militares, a perda de patente e a expulsão de Cid e outros fardados só podem ocorrer após o esgotamento dos processos contra eles na Justiça comum. Cid não responde a inquéritos militares. Em caso de condenação, ele passaria por um conselho de justificação, que avaliaria sua conduta e, se condenado, a decisão seria submetida ao Superior Tribunal Militar.
É importante destacar que a perda de posto, patente e condecorações está prevista no Código Penal Militar. No entanto, mesmo em caso de condenação e expulsão, os dependentes de Cid continuariam a receber pensão militar.
A derrocada de Cid e de outros militares fez com que parte da tropa e da “turma do pijama” (militares inativos) começassem a questionar a politização das tropas e a adesão ao governo Bolsonaro. Um oficial-general que integrou o governo afirmou que os militares condenados serão punidos.
A defesa de Cid argumenta que ele apenas cumpriu ordens superiores, mas o Código Penal Militar prevê que, se a ordem do superior tem por objeto um ato manifestamente criminoso, o inferior também é punível.
Há militares que relativizam as responsabilidades de Cid e outros investigados, atribuindo as ações contra eles a ações ilegais do Supremo Tribunal Federal (STF) e a uma suposta guerra entre a Polícia Federal e o Exército pela segurança presidencial.
Apesar das controvérsias, a expectativa é de que Cid e outros militares investigados sejam punidos pela Justiça comum e, posteriormente, pelo Exército, com a perda de patente e expulsão da corporação.