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Conselho de classe: Uma reflexão sobre a pressão acadêmica e a busca pela perfeição dos jovens estudantes

Recentemente, como professor, tive a oportunidade de participar de conselhos de classe, cujo objetivo principal é analisar o desempenho dos alunos no primeiro trimestre. Essa avaliação não se restringe apenas aos alunos, mas também inclui os professores, uma vez que o processo de ensino-aprendizagem envolve tanto os interlocutores quanto seus esforços reais para que a magia aconteça. Mesmo com as mudanças significativas que ocorreram ao longo dos anos – e que foram para melhor – ainda sinto uma certa desconforto durante esses momentos, embora isso não represente necessariamente uma sensação ruim, como detalharei a seguir.

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Quando eu era jovem e morava em Londrina, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental, os conselhos de classe eram realizados de uma maneira bastante diferente da atual. A sala era dividida em três partes: na ponta estavam os professores e a equipe diretiva, próximo à porta estavam os pais para evitar possíveis fugas, e por fim, os alunos, encurralados entre os dois primeiros. A professora chamava os alunos pelo nome, fazendo com que eles e seus pais se levantassem para que fossem descritos detalhadamente o comportamento e as notas dos estudantes.

Eu era aquele garoto que se saía bem na escola, tirava notas razoáveis, mas era incapaz de ficar quieto ou sentado, parecia ter “um rádio na guela”, como descreveu certa vez a professora Juliana de Matemática da quinta série. Recordo-me das repreensões em público, dos castigos e até mesmo dos tapas que alguns colegas recebiam. Este relato não é uma denúncia, tampouco uma reflexão sobre as melhorias ocorridas, pois estas infelizmente ainda não aconteceram.

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É fundamental que os jovens assumam mais responsabilidades, mas, meus amigos, mesmo para isso devemos estabelecer limites. Na busca por criar adultos mais responsáveis, estamos exigindo das crianças uma atitude que nós mesmos muitas vezes não adotamos. Aprendemos com os erros ao longo da vida e, agora, como adultos, projetamos nos jovens uma perfeição que sequer nós mesmos alcançamos, apenas compreendemos ser necessária.

Isso não significa aceitar o erro, mas torná-lo parte normal do processo. Antes que alguns mais exaltados protestem, é importante destacar que o erro “normal” aqui se enquadra dentro da legalidade e da moralidade, sendo os pequenos equívocos cotidianos que cometemos, mas que condenamos naqueles a quem esperamos que sejam melhores do que nós.

Um aluno de quinze anos não enxerga o mundo da mesma forma que nós, em suas vidas passadas, quando também tinham essa idade. Por amarmos tanto e desejarmos o melhor para nossos pequenos, muitas vezes privamos a oportunidade deles se reconhecerem como indivíduos, que precisam sentir-se seguros para cometer erros e saber que encontrarão abrigo e apoio em suas famílias e escolas quando esse momento chegar.

Mesmo Jesus, que jamais apoiou o pecado, não condenava o pecador. Então, por que tantos erros e talvez pecados, culpar seu filho de quinze anos porque esqueceu o material, não realizou uma atividade ou fala demais? Ele precisa mudar, mas também deve desfrutar da infância enquanto biologicamente o é, afinal, o mundo está cheio de adultos fisicamente desenvolvidos, mas com atitudes infantis, que não tiveram a oportunidade de crescer no tempo certo. Permita que seu filho seja o protagonista de sua própria vida, mas esteja presente para apoiar, aplaudir e até mesmo criticar, porém sem retirá-lo do centro das atenções. Seja a luz que ele precisa para guiar seu caminho, mas permita que ele percorra essa jornada.

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