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Capa feita com inteligência artificial gera polêmica e revolta no Prêmio Jabuti: artistas se posicionam contra a presença de obras feitas por IA.




Artistas se posicionam após polêmica com capa feita por inteligência artificial

Após o anúncio de que uma capa feita com inteligência artificial estava entre as semifinalistas do Prêmio Jabuti, artistas se posicionaram nas redes sociais em repúdio a essa prática.

O trabalho do designer Vicente Pessôa para a capa de “Frankenstein”, do Clube de Literatura Clássica, foi desclassificado um dia depois da repercussão do caso, causando revolta e sendo considerado plágio por algumas pessoas do meio. Um coletivo de autores e ilustradores chegou a assinar uma carta aberta à Camara Brasileira do Livro, a CBL, condenando o uso da inteligência artificial.

André Dahmer, um dos três jurados responsáveis pela escolha dos semifinalistas da categoria, se pronunciou sobre a controvérsia, afirmando que não reconheceu o nome da IA quando leu a ficha técnica do livro, mas que ela estava creditada e, portanto, não acredita que tenha havido má-fé na inscrição.

Baptistão, outro dos jurados, também alegou não ter percebido que a obra era feita com inteligência artificial e que “não teria selecionado o livro se tivesse essa informação”.

Em resposta à publicação de Dahmer, o cartunista João Montanaro, que colabora com a Folha, disse que não acha que o maior problema das imagens geradas por IA seja relacionada ao plágio. Para Montanaro, o problema é a homogeneização da arte comercial, alimentada por artistas que fazem mais do mesmo.

“A produção a partir de bancos de dados é inevitável e vai continuar acontecendo —e cada vez será mais difícil diferenciá-la da feita por humanos. Isso se dá pela inegável potência da tecnologia, mas também porque a produção gráfica contemporânea é essencialmente homogênea. Nunca se teve tanto profissional produzindo basicamente a mesma coisa. É uma provável consequência de anos sob o sol do algoritmo”, afirmou Montanaro.

Por outro lado, uma carta assinada à CBL contra a presença de obras feitas com inteligência artificial em premiações já acumula quase 1.500 assinaturas de escritores, ilustradores e profissionais do livro. Os signatários chamam a Câmara ao reconhecimento das consequências da IA para a classe artística e pedem o banimento da participação de trabalhos feitos por Inteligência Artificial em premiações oficiais, bem como auxílio na autoria de uma legislação que proteja o trabalhador da exploração de ferramentas similares.

Entre os que se incomodaram com a indicação da obra de Pessôa está o escritor Samir Machado de Machado, autor de livros como “O Crime do Bom Nazista”. “O que se está reconhecendo? O talento em descrever linhas de código para um robô?”, questionou em suas redes.

Além do escritor, inúmeros ilustradores e profissionais do livro divulgam a carta e se posicionam contra o uso de IA sob a hashtag #IANãoÉAutor.

O jornalista Silas Martí, editor da Ilustrada, foi jurado da categoria projeto gráfico do prêmio


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