Massacre de Haximu: 30 anos após, ocorrido reacende debate acerca da segurança e amparo dos povos indígenas.

O massacre de Haximu, como ficou conhecido, ocorreu na aldeia de mesmo nome, localizada na fronteira entre Brasil e Venezuela, um ano depois da demarcação da Terra Indígena Yanomami. O antropólogo francês Bruce Albert, que estava presente na região para auxiliar na tradução do yanomami durante as investigações, descreveu o episódio como brutal.
Segundo relatos e documentos da época, as vítimas do massacre eram majoritariamente mulheres, crianças e idosos, já que a maioria dos homens estava em uma festa em outra comunidade. Elas foram surpreendidas e mortas a tiros e golpes de facão, em um ataque liderado por Pedro Garcia, conhecido como Prancheta.
O processo de apuração durou vários dias e contou com depoimentos e entrevistas conduzidos pelo delegado da Polícia Federal Raimundo Cotrim. Os sobreviventes chegaram a uma maloca na região do Toototobi, no Amazonas, em 24 de agosto, onde forneceram informações cruciais para a construção de um documento jurídico sólido.
Trinta anos após o massacre, a Terra Indígena Yanomami é a mais populosa do país entre as demarcadas, com 27.152 habitantes, de acordo com o Censo 2022. No entanto, o episódio trouxe à tona problemas ainda mais complexos, como a expansão do garimpo e a rede de atividades ilegais associada ao crime organizado.
O relato do missionário Carlo Zacquini, que testemunhou sucessivas crises enfrentadas pelos yanomamis ao longo dos anos, evidencia o impacto emocional causado pelo massacre. Ele registrou uma das principais fotos dos sobreviventes, que seguravam cabaças contendo restos mortais.
O pesquisador do Instituto Socioambiental, Marcos Wesley de Oliveira, destaca que a disputa em torno de Haximu reflete uma disputa política, sendo que tanto a Justiça brasileira quanto o governo venezuelano condenaram o ocorrido. No entanto, há negação por parte de alguns políticos, como Hiran Gonçalves, que afirmou que o massacre não aconteceu durante uma sessão da CPI das ONGs.
Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça e procurador da República na época da demarcação da TI Yanomami, destaca a importância da publicidade do caso e do entendimento do STJ de que se tratava de genocídio. As penas dos condenados foram consideradas extintas em 2011 e eles foram soltos, mas Prancheta foi novamente preso em 2018 por envolvimento com mineração ilegal na TI Yanomami.
O massacre de Haximu ficará marcado na história como um episódio de violência extrema contra os yanomamis, revelando a vulnerabilidade dessas comunidades indígenas diante da expansão do garimpo e das atividades ilegais. A busca por justiça e a proteção dessas terras continuam sendo desafios enfrentados até os dias atuais.