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Escritora Lisa Ginzburg aborda relações familiares complexas em sua obra e participa da Flip de Paraty ao lado de Ana Margarida de Carvalho.

A família é o tema central que move a escritora Lisa Ginzburg. Como neta de um renomado nome da literatura italiana, Natalia Ginzburg, a autora está no Brasil para participar da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, onde irá compartilhar uma mesa com a portuguesa Ana Margarida de Carvalho na sexta-feira, dia 11.

Lisa Ginzburg já possui dois títulos publicados no Brasil, sendo eles “Cara Paz”, finalista do prestigiado prêmio Strega na Itália, e “Uma Pluma Escondida”, lançado em outubro.

Os dois livros abordam as relações familiares assimétricas, termo utilizado pela própria autora em uma entrevista à Folha, onde ela demonstrou fluência no idioma português. A ligação de Ginzburg com o Brasil vai além das visitas literárias, uma vez que ela tem uma filha com um brasileiro e já passou temporadas no país.

“O público brasileiro consegue compreender alguns temas da literatura italiana com facilidade”, afirma a escritora. “E o tema da família é o único que compartilho com minha avó. Ela contava sobre sua própria família, e em meus livros é recorrente a abordagem da família de forma complicada, disfuncional e destruída.”

Na narrativa de Ginzburg, a figura da “mamma italiana” que sacrifica tudo por seus filhos não aparece. A autora se concentra em mães erráticas e nos destroços deixados por elas em seus caminhos.

“Cara Paz”, narrado pela filha Maddalena, descreve a história de Gloria, uma mulher argentina que abandona marido e filhas em Roma em busca de sua saúde mental. A ideia de uma mãe que deixa seus filhos causou impacto nas leitoras italianas.

Ginzburg enfatiza que sua intenção não foi retratar uma vilã. Ela procurou criar uma figura materna que toma as rédeas de sua própria vida, mesmo que isso signifique afastar-se de suas filhas.

A autora acredita que o amor não está ligado necessariamente a gestos tradicionais, e que a família está em constante transformação. Ela destaca a importância de as mulheres conquistarem liberdade ao escolherem seus destinos e conciliarem maternidade e independência.

Em seu livro “Uma Pluma Escondida”, Ginzburg explora a maternidade por meio da adoção. A protagonista, Enrica, vive uma vida confortável em Florença, mas lamenta a ausência do elo materno. Para a autora, essa personagem se torna estrangeira de si mesma.

Para Ginzburg, o que seus dois romances têm em comum, além do tema familiar, é a presença da assimetria nas relações, a qual ela não critica, pois acredita que traz uma beleza singular à vida.

Apesar de ser mãe, a autora não se inspira apenas em sua própria experiência ao escrever, e critica a predominância de narrativas autobiográficas no mercado editorial. Ela ressalta a importância de continuar imaginando e criando, pois a fantasia é uma ferramenta poderosa para promover renovação.

A presença de autores como Annie Ernaux e Édourd Louis na Flip também é citada por Ginzburg, destacando a capacidade desses escritores de abordarem aspectos universais em suas obras, mesmo partindo de experiências pessoais.

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