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Participação de jovens em sindicatos cai 73% em uma década; redes sociais centralizam reivindicações e organização dos trabalhadores





Participação de Jovens em Sindicatos Cai, Mas Movimentos nas Redes Sociais Crescem

Participação de Jovens em Sindicatos Cai, Mas Movimentos nas Redes Sociais Crescem

No último relatório divulgado pelo IBGE, foi constatado uma queda de 73% na participação de trabalhadores com idades entre 18 e 24 anos nos sindicatos. O levantamento apontou que, ao longo da última década, as redes sociais se tornaram um canal central para as reivindicações trabalhistas dos jovens, os quais buscam se organizar em plataformas digitais para pleitear mudanças na legislação e regulamentação vigente.

Um exemplo disso é o movimento Vida Além do Trabalho (VAT), liderado pelo influencer Rick Azevedo, que defende o fim da escala 6 x 1 (seis dias de trabalho e um de folga). Em um curto período de nove meses, o VAT conquistou uma grande adesão, acumulando mais de 125 mil seguidores no Instagram, 16 mil no TikTok, 1.934 no Telegram e centenas no WhatsApp. Além disso, uma petição online idealizada pelo movimento obteve mais de 1,1 milhão de assinaturas em prol da mudança na escala de trabalho.

A mobilização do VAT foi tão impactante que, em 5 de junho, o Congresso aprovou a realização de uma audiência pública para debater as propostas do movimento, tendo sido solicitado pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP). Esta parlamentar também protocolou uma proposta de emenda à Constituição visando a redução da jornada semanal de trabalho sem afetar o salário dos trabalhadores.

Erika Hilton destaca a importância das redes sociais como meio de amplificar o debate e envolver cada vez mais pessoas nas discussões trabalhistas, fomentando a criação de novas lideranças e incentivando a participação ativa da juventude na política e no ambiente de trabalho. A pandemia, segundo a professora Tatiana Iwai, do Insper, impulsionou a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional, especialmente entre os jovens, sendo que a disseminação de conteúdos nas redes sociais tem contribuído para fortalecer esse movimento.

Na contramão do envolvimento crescente dos jovens em movimentos digitais, dados da Pnad Contínua apontam uma redução significativa na adesão de trabalhadores brasileiros aos sindicatos, passando de 16,1% em 2012 para 8,4% em 2023. Especificamente entre os jovens de 18 a 24 anos, a queda foi de 73%.

Cristiana Paiva Gomes, secretária da juventude da Central Única dos Trabalhadores (CUT), reconhece a falta de interesse dos jovens nos sindicatos, atribuindo isso à pouca representatividade dessa faixa etária nas lideranças sindicais. Para ela, os sindicatos precisam repensar sua comunicação e se adequar às demandas contemporâneas dos jovens, que buscam posicionamentos claros em temas como cultura e meio ambiente.

Ruy Braga, chefe do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), aponta que tanto os jovens quanto os sindicatos têm demonstrado desinteresse mútuo, o que evidencia a necessidade de uma mudança estrutural nos sindicatos para atrair essa nova geração de trabalhadores que traz consigo novas contestações e demandas. A baixa adesão dos jovens ao sindicato, segundo Braga, reflete a falta de identificação desses trabalhadores com as práticas e discursos sindicais tradicionais.

O movimento Breque dos Apps, liderado por entregadores de aplicativo, também se destaca como um exemplo de mobilização nas redes sociais. O líder do movimento, Andreando Firmino de Oliveira, conhecido como Bola de Fogo, relata as conquistas e desafios enfrentados pelos entregadores na luta por melhores condições de trabalho, ressaltando a preferência dos jovens por uma comunicação direta com as empresas de aplicativos em detrimento da intermediação sindical.

Em um cenário onde os jovens buscam se organizar e reivindicar seus direitos de forma mais direta e dinâmica, os sindicatos enfrentam o desafio de se reinventar e dialogar de maneira eficaz com essa nova geração de trabalhadores que encontrou nas redes sociais um espaço para se expressar e lutar por mudanças significativas no mercado de trabalho.


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