Destaque

Pesquisa aponta que o glitter tem efeitos negativos no desenvolvimento de organismos vitais para os ecossistemas aquáticos.

Presença constante em fantasias e maquiagem de carnaval, as partículas de glitter podem comprometer o crescimento de organismos que constituem a base de ecossistemas aquáticos, como as cianobactérias, que têm papel fundamental para os ciclos biogeoquímicos da água e do solo e na alimentação de outros organismos.

Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) revela que as partículas de glitter, também conhecidas como purpurina, são microplásticos com menos de 5 milímetros que não são filtrados pela rede de tratamento de esgoto. Assim, quando os foliões tomam banho, as partículas escorrem pelo ralo e contaminam praias, sedimentos, florestas, lagos e oceanos.

Estudos científicos afirmam que mais de 8 milhões de toneladas de glitter já foram lançadas nos oceanos nos últimos anos.

O glitter, por não ser biodegradável, entra em contato com os organismos aquáticos e afeta todo o ecossistema. Essa exposição pode ocorrer por ingestão, contato com subprodutos tóxicos ou por danos causados pelas bordas afiadas das partículas. Além disso, as características físico-químicas do glitter dificultam a medição precisa dos níveis de contaminação da água.

Um estudo realizado pela USP avaliou os efeitos de diferentes concentrações de glitter em duas linhagens de cianobactérias: Microcystis aeruginosa CENA508 e Nodularia spumigena CENA596. Ambas as linhagens são responsáveis ​​por formações de florações em corpos d’água e fazem parte de uma coleção de quase 800 linhagens coletadas no Brasil.

Durante 21 dias, os pesquisadores mediram a taxa de crescimento celular das cianobactérias. Os resultados mostraram que as doses crescentes de glitter aumentaram o biovolume das células de cianobactérias, causando estresse e comprometendo a fotossíntese. Isso destaca a toxicidade pouco explorada do glitter em microrganismos.

Os resultados sugerem que concentrações ambientais de glitter podem afetar negativamente os organismos dos ecossistemas aquáticos. O estudo mostrou que a linhagem Microcystis aeruginosa apresentou mudanças na taxa de crescimento em diferentes doses de glitter, enquanto Nodularia spumigena apresentou efeitos negativos em concentrações acima de 137,5 mg por litro de água.

Os pesquisadores acreditam que o estudo oferece embasamento para que o poder público e a população repensem as comemorações do carnaval e estimulem um consumo mais consciente de itens derivados de plástico. O glitter, apesar de ser utilizado em festividades, causa problemas ao meio ambiente e contamina ecossistemas marinhos e de água doce.

Os pesquisadores pretendem realizar os mesmos testes em mais linhagens de cianobactérias e analisar o glitter dito biodegradável para verificar se esse material realmente não gera problemas para os organismos.

É importante destacar a importância de campanhas para evitar o uso excessivo de glitter e conscientizar as pessoas sobre os impactos ambientais desse material. O carnaval pode ser sustentável e celebrado de forma responsável, sem comprometer os ecossistemas aquáticos tão importantes para a vida.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo