O renomado acadêmico Giovanni Sartori (1924-2017) proporcionou valiosas reflexões sobre a democracia, considerando-a como um complexo maquinismo com operadores fundamentais para seu funcionamento. Em suas análises, Sartori destacou a importância de não apenas focar nas estruturas e dispositivos constitucionais, mas também nos agentes responsáveis por operar essas estruturas.
Sartori criticou a Constituição brasileira, apontando-a como repleta de “dispositivos quase suicidas” e “promessas irrealizáveis”, destacando inclusive o tabelamento da taxa de juros como um dos elementos mais controversos. No entanto, ele reconheceu a eficiência do modelo de presidencialismo de coalizão, com um Poder Executivo forte e uma distribuição de poderes entre os diversos órgãos do Estado.
O sistema político brasileiro, segundo Sartori, é capaz de produzir governabilidade e garantir a participação de diversos atores nos processos de tomada de decisão. Apesar de sua lentidão e ineficiência, o modelo multipartidário tem se mostrado sólido e resistente a transformações radicais, como as observadas durante o governo de Bolsonaro.
Entretanto, Sartori alertou para o risco de imobilismo e destacou a importância de operadores eficientes no contexto democrático. A capacidade de forjar consensos, combinar técnicas fundamentadas e obter apoio popular são desafios cruciais para garantir um bom governo dentro do sistema democrático. Sem operadores qualificados, a governabilidade pode não se converter em efetividade governamental.
Em síntese, a democracia, para Sartori, é um complexo sistema que demanda tanto estruturas funcionais quanto agentes competentes para operá-las. A busca por um bom governo requer não apenas a manutenção das instituições, mas também a formação de líderes capazes de lidar com os desafios políticos contemporâneos.
