O governo de Riad, capital da Arábia Saudita, já considerou o futebol como uma potencial ameaça ao seu regime. Durante o período conhecido como Primavera Árabe, quando diversos países do Oriente Médio vivenciaram uma onda de protestos, a transformação dos estádios em espaços de manifestação popular assustou os príncipes sauditas.
O receio do governo era de que o futebol pudesse se tornar um instrumento de mobilização popular e uma plataforma para exigir mudanças políticas, incluindo a adoção de um sistema democrático e o fim de décadas de repressão.
Para entender melhor o contexto, é importante lembrar que a Arábia Saudita é um país com um sistema político autocrático, onde o poder é centralizado na família real, liderada pelo rei. O regime é conhecido por exercer um controle estrito sobre a sociedade, limitando a atuação de movimentos de oposição e restringindo a liberdade de expressão.
No entanto, os estádios de futebol representam um espaço onde os cidadãos sauditas podem se reunir e expressar suas opiniões de forma pública. Durante os jogos, torcedores de diferentes classes sociais têm a oportunidade de interagir e compartilhar suas experiências, criando um senso de identidade e comunidade.
Durante a Primavera Árabe, essa capacidade dos estádios de se tornarem um ponto de encontro para protestos e reivindicações políticas se tornou ainda mais evidente. Os príncipes sauditas temiam que o futebol, assim como ocorreu em outros países da região, pudesse se tornar uma plataforma para exigir mudanças políticas e sociais.
Portanto, o governo de Riad adotou uma postura de controle ainda maior sobre os estádios de futebol, limitando o acesso de torcedores, restringindo as manifestações políticas durante os jogos e impedindo qualquer forma de mobilização popular.
No entanto, é importante ressaltar que mesmo com essas restrições, o futebol continuou sendo uma paixão nacional no país. Os sauditas continuaram a assistir, apoiar e torcer por suas equipes favoritas, mesmo que de forma mais contida e menos politizada.
Nos últimos anos, no entanto, o governo saudita tem buscado modernizar e liberalizar o país, como parte de um plano de reformas econômicas e sociais. Nesse sentido, o futebol tem sido utilizado como uma ferramenta de mudança, com a realização de eventos esportivos internacionais e o investimento em clubes de futebol, atraindo jogadores e treinadores estrangeiros.
Essas medidas têm se mostrado eficazes não apenas para melhorar a imagem do país no cenário internacional, mas também para permitir que os cidadãos sauditas tenham acesso a uma forma de entretenimento popular e não politizada.
Portanto, apesar das restrições vivenciadas durante a Primavera Árabe, o futebol continua a desempenhar um papel significativo na sociedade saudita, representando um espaço de união e identidade nacional, mesmo que de forma controlada pelo governo.
