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Fiocruz inicia testes em humanos para primeira vacina contra hanseníase, doença que afetou 245 mil brasileiros em uma década.

Vacina contra hanseníase será testada em humanos pela Fiocruz

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está prestes a testar em humanos a primeira vacina contra a hanseníase, uma doença que causou mais de 245 mil infecções nos últimos dez anos no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Se os resultados mostrarem eficácia e segurança, o imunizante poderá ser incluído no calendário nacional de imunizações.

Desenvolvida pelo Access to Advanced Health Institute (AAHI), um instituto de pesquisa biotecnológica dos Estados Unidos, a vacina conhecida como LepVax recebeu autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para iniciar os testes em humanos. O estudo contará com a participação de 54 voluntários saudáveis.

O LepVax é o primeiro imunizante contra a bactéria Mycobacterium leprae, causadora da hanseníase, e foi desenvolvido utilizando uma tecnologia moderna de subunidade proteica, segundo informações fornecidas pela Fiocruz.

Testes pré-clínicos realizados em camundongos demonstraram resultados promissores, com uma significativa redução na taxa de infecção em animais vacinados com o LepVax, mesmo quando expostos a uma grande quantidade de bactérias.

Além dos testes em camundongos, a vacina também foi testada em tatus que já haviam sido infectados. Nestes casos, verificou-se um retardamento nos danos nos nervos motores e sensoriais, sendo esses animais considerados modelos para estudos da forma neurológica da hanseníase.

A etapa inicial dos testes com humanos foi conduzida nos Estados Unidos, onde 24 voluntários saudáveis foram imunizados com o LepVax, demonstrando segurança e imunogenicidade, ou seja, capacidade de estimular a resposta imunológica.

Agora, no Brasil, o estudo envolverá a avaliação da segurança da vacina em duas formulações diferentes: com baixa e alta doses de antígeno. Os 54 participantes serão divididos aleatoriamente em três grupos para receber a vacina, o placebo ou uma solução salina sem efeito biológico.

Os participantes serão vacinados em três aplicações, com um intervalo de 28 dias entre elas, e serão acompanhados por um ano para avaliar a eficácia do imunizante. A líder científica do ensaio clínico da LepVax, Verônica Schmitz, destaca a importância do estudo randomizado, duplo cego e controlado por placebo para comparar os grupos vacinados com o grupo controle de forma imparcial.

O que é a hanseníase?

A hanseníase é uma doença infecciosa, crônica e contagiosa que afeta a pele e os nervos, podendo causar manchas, caroços e alterações de sensibilidade. Sem tratamento, a infecção pode levar a danos nos nervos motores e sensoriais, prejudicando a mobilidade, especialmente nas mãos e nos pés.

O Brasil é o segundo país com maior número de casos de hanseníase no mundo, com mais de 22.000 novos casos registrados em 2023, conforme dados do Ministério da Saúde. O tratamento é disponibilizado pelo SUS e a doença é curável, porém muitos casos são identificados tardiamente, resultando em danos permanentes.

Com 90% dos casos de hanseníase nas Américas, o Brasil é um dos focos da doença globalmente. A cada quatro minutos, um novo caso é registrado no mundo, de acordo com Verônica Schmitz, evidenciando a importância da pesquisa e desenvolvimento de vacinas contra a doença.

A Organização Mundial da Saúde estima que a hanseníase ocorre em 120 países, com aproximadamente 200 mil novos casos por ano, ressaltando a necessidade de medidas preventivas e terapêuticas eficazes contra a doença.

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