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Cortiços em São Paulo: a história das moradias que ajudaram a construir a megalópole






Reportagem sobre os Cortiços em São Paulo

São Paulo: Cortiços Contam História da Transformação da Cidade

Ao observar os prédios da zona central de São Paulo, é fácil notar os inúmeros avisos de “Aluga-se quarto”, que caracterizam os chamados cortiços. Essas habitações, surgidas no final do século 19, desempenharam um papel crucial na evolução da maior cidade brasileira, acompanhando sua transição de grande cidade para megalópole industrial e comercial.

O livro “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo, ambientado no Rio de Janeiro, retrata de forma marcante a vida nesses locais. No entanto, em São Paulo, os cortiços são mais numerosos e concentrados, abrigando mais de 80 mil pessoas em cerca de 31,8 mil unidades, de acordo com o Censo de 2022.

Uma Megacidade é Construída

Definidos como unidades habitacionais multifamiliares coletivas, os cortiços são espaços ecléticos que se adaptaram a propriedades abandonadas ou vazias. Nesse cenário, a São Paulo do final do século 19, impulsionada pela industrialização, viu surgir essas moradias que abrigavam um número crescente de trabalhadores urbanos livres.

Com o crescimento vertiginoso da cidade, os cortiços se tornaram uma solução habitacional permanente para muitos, possibilitando que pessoas de baixa renda vivessem próximas aos seus locais de trabalho. No entanto, com o retorno da população de maior renda para o centro, o futuro dessas moradias se torna incerto.

Solução Temporária Permanente

Embora diferentes em tamanho e aparência, os cortiços compartilham características internas semelhantes, como quartos individuais que servem como dormitório e cozinha, com espaços compartilhados para banheiros. A média de moradores por quarto é de quase 2 pessoas, refletindo a superlotação típica dessas habitações.

Os cortiços são atraentes devido aos custos mais baixos em comparação com outras opções de moradia na cidade. Muitos inquilinos são trabalhadores informais, incapazes de comprovar renda para alugar apartamentos regulares. Apesar das tentativas governamentais de regulamentação ao longo dos anos, os cortiços continuam sendo uma fonte de moradia importante para a população mais vulnerável.

Liberdade de Deslocamento

Apesar das precárias condições, os cortiços são uma opção conveniente para muitos residentes de São Paulo, devido à proximidade com locais de trabalho e serviços públicos. O transporte público ineficiente e os deslocamentos longos tornam atrativos até mesmo os cortiços mais simples no centro da cidade.

Além disso, a comunidade presente nos cortiços proporciona uma atmosfera de colaboração e apoio mútuo entre os moradores, tornando a vida mais tolerável. Apesar das dificuldades, muitos inquilinos se unem para melhorar as condições de suas habitações, buscando formas legais de garantir a segurança e o conforto dentro dos cortiços.

Onda de Renovação

O processo de gentrificação que vem ocorrendo no centro de São Paulo ameaça a permanência dos cortiços na região. Com a valorização imobiliária e a renovação de prédios históricos para acomodar famílias mais abastadas, os cortiços estão sendo gradualmente deslocados para áreas periféricas da cidade.

Apesar dos benefícios fiscais oferecidos pela prefeitura para o retrofit de propriedades antigas, o programa de renovação enfrenta desafios para atrair interessados de baixa renda. A pressão pela revitalização urbana coloca em xeque a existência dos cortiços, que continuam a resistir devido à sua natureza lucrativa para os proprietários.

Em resumo, os cortiços de São Paulo contam uma história de transformação urbana, resistência e desafios que refletem as complexidades da vida na maior metrópole do Brasil.


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