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Guarda Municipal do Rio: Um Ano Após Mudança de Escala, Críticas e Insatisfação Crescentes com a Segurança na Cidade




Artigo sobre a Guarda Municipal do Rio de Janeiro

Foto: Robert Gomes

O filósofo conservador Roger Scruton, que perdemos em 2020, tinha uma frase lapidar, que resume de forma magistral a angústia de estar no lado direito das questões humanas: “Nós, conservadores, somos chatos, mas também estamos certos”. Perde-se um pouco, é verdade, na tradução, considerando que “somos” e “estamos” no caso é o mesmo verbo, “are”, do verbo “to be”. Mas quando afirmo “angústia” é pelo fato de que nem sempre o conservador tem a vontade de estar certo. Um exemplo disso é o que aconteceu em junho do ano passado – ou seja, lá se vai um ano – quando fui contra a mudança de escala da Guarda Municipal do Rio de Janeiro. A proposta do governo Paes era a de acabar com a escala 12×60, lei ainda da época do prefeito anterior, Marcelo Crivella, para a escala que era antes, de 12×36. A prefeitura e os vereadores do Lula diziam que com um passe de mágica essa nova escala sacrificaria os guardas mas traria paz, ordem e segurança para a cidade, fazendo com que ela ficasse tomada por guardas. Teríamos enfim um guarda em cada esquina, em todos os bairros. Os camelôs desapareceriam e se transformariam em empreendedores organizados, e as praças teriam finalmente um ordenamento de modo a conciliar atividade cultural com o silêncio do descanso (penso, nessa hora, na Praça São Salvador, que é um exemplo de uma prefeitura que decidiu deixar o cidadão de lado).

Como conservador que sou, fui chato. Bati o tempo todo na Prefeitura, reclamei, defendi o direito dos guardas, mesmo sofrendo todas as críticas. Conservadores precisam estar preparados para defender seus pontos de vista, em um mundo no qual é “chique” ser progressista e onde discursos bonitos substituem qualquer coisa – inclusive atitudes decentes. Eu fui chato e… eu estava certo, e não comemoro isso. Não tenham dúvida de que eu preferia que depois de um ano estivéssemos vendo, por exemplo, a Uruguaiana corretamente ocupada, ou a Freguesia, em Jacarepaguá (como cita aqui no Diário do Rio o jornalista Quintino Gomes Freire), em condições de ter pedestres e ambulantes convivendo normalmente. Ora, quem não gostaria de estar errado e ver a Praça São Salvador, onde os moradores sofrem dia e noite com manifestações culturais, samba, bebida, droga e baderna, ter finalmente a Guarda Municipal mediando os conflitos, resolvendo questões e estabelecendo horários? É claro que eu gostaria de estar errado e de ver isso acontecendo.

Em vez disso, no entanto, o que vemos outro dia na São Salvador foi a própria prefeitura, via Secretaria de Ação Social (uma das dezenas criadas pelo prefeito) promover uma roda de samba para a população de rua. Em vez de recolher as pessoas, conduzí-las a abrigos e a uma reintegração à sociedade, a política pública escolhida é “dar mais conforto a quem vive na rua”. Com isso, chegam mais e mais mendigos ao local – mas guarda municipal que é bom, nem pensar. É de se pensar se a escala dos mendigos não é melhor que a que Eduardo Paes criou para a Guarda Municipal.

Na próxima quinta-feira, portanto, completa-se um ano da nova escala, e a Secretaria de Ordem Pública pelo jeito continua colocando a Guarda, uma instituição séria e importante para o Rio, em um plano inferior, subutilizando-a, empregando-a em blitzes tão irregulares quanto inoportunas. Ou desviando de função os guardas, que recebem gordas gratificações enquanto acompanham o dia-a-dia dos amiguinhos do prefeito em suas diatribes instagramáveis.

É uma pena. Eu preferia ter errado. Mas às vezes o destino do conservador é, tal como o menino da fábula, ter que gritar que o rei está nu enquanto todos fingem não ver. Que bom, no entanto, que a população começa a enxergar o governo Eduardo Paes, a cada medida inócua, a cada arbitrariedade, a cada ataque às instituições. O “rei” está cada vez mais nu. Em breve, novo rei será posto.

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