
A reunião, que ocorreu em sigilo e contou com a participação de integrantes do governo brasileiro e da Secretariado-Geral da Defesa da França, teve como objetivo avançar nas negociações dentro do acordo de parceria estratégica assinado em 2008, que inclui o programa Prosub, programa brasileiro de submarinos.
Estima-se que o Prosub, que inclui a construção de quatro submarinos convencionais e um submarino de propulsão nuclear, tenha um custo de cerca de R$ 40 bilhões. O acordo assinado com a França em 2008 previa o apoio francês na concepção e construção da parte não-nuclear do submarino.
Até o momento, a França tem ajudado apenas no design do casco do submarino de propulsão nuclear, mas não forneceu a tecnologia necessária para acomodar o reator dentro do casco. Portanto, o Brasil necessita de mais know-how e equipamentos franceses para avançar no projeto.
Nesse novo acordo complementar, o Brasil pretende comprar equipamentos para a turbina e o gerador, que serão alimentados pela energia gerada pelo reator do submarino. Esses equipamentos são fabricados apenas na França e não estão disponíveis no mercado brasileiro. Além disso, o Brasil precisa de transferência de know-how para integrar o reator ao submarino.
Outra demanda brasileira é a garantia de segurança do reator, mas a França reluta em se envolver diretamente na parte nuclear do projeto.
O objetivo do Brasil é assinar uma carta de intenções nos próximos meses, para garantir a continuidade da construção do submarino de propulsão nuclear. A Marinha brasileira espera finalizar o reator atômico em 2027 e concluir o submarino em dez anos.
No entanto, a negociação não é fácil, já que os Estados Unidos se opõem à venda de equipamentos e transferência de know-how para o Brasil, devido ao receio de que o país se torne uma potência nuclear no hemisfério ocidental.
Ainda assim, o interesse da França na venda vai além do aspecto financeiro. O país também busca se aproximar do Brasil para ser um potencial fornecedor de urânio. A França está em busca de novas fontes de urânio, uma vez que o fornecimento do Níger, atual fornecedor, foi afetado por um golpe de Estado e pela influência russa na região.
O Brasil, por sua vez, teria que aumentar sua produção de urânio e alterar sua legislação, já que o setor é atualmente monopólio estatal.
Além dos desafios tecnológicos, também será necessário negociar com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) um acordo de salvaguardas para garantir a segurança do combustível atômico.
Em resposta, a Marinha brasileira afirmou que a parceria estratégica com a França tem sido bem-sucedida nos últimos 15 anos e que busca incrementar a quantidade de equipamentos periféricos para o sistema de propulsão do submarino.
No entanto, a embaixada francesa no Brasil não se manifestou sobre o assunto.