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Frei Betto debate a dicotomia entre o capitalismo e a necropolítica, uma política que gera consequências fatais.

Alerta da natureza: Pandemia demonstra fragilidade da espécie humana

A pandemia da Covid-19 serviu como um alerta da natureza de que a espécie humana está sujeita à erradicação, assim como ocorreu com os dinossauros, se a destruição ambiental continuar a se aprofundar. Um fato curioso é que apenas os seres humanos foram afetados pelo vírus, enquanto nenhuma outra espécie foi contaminada. Isso revela que a natureza não depende de nós, mas sim nós dependemos dela para sobreviver.

Durante bilhões de anos, a natureza evoluiu sem a presença humana, e não tem nenhuma necessidade da nossa existência. No entanto, nós dependemos dela para obter alimentos e recursos naturais que sustentam nossa vida e a produção de nossos artefatos. Desde a roupa que vestimos até os computadores que utilizamos, tudo depende da natureza.

Vivemos em um sistema que valoriza o lucro acima de tudo, o que resulta em morte coletiva em prol do benefício econômico. Essa mentalidade egoísta alimenta a insegurança e promove o autoritarismo. Um exemplo disso é a postura do governo de Nayib Bukele em El Salvador, que utiliza o combate à criminalidade como justificativa para dominar os poderes Legislativo e Judiciário e criar megaprisões que abrigam milhares de presos sem provas consistentes.

Outro exemplo de necropolítica é a rejeição dos países europeus aos refugiados africanos e árabes, deixando muitos deles morrerem no Mediterrâneo sem qualquer socorro. O capitalismo criou uma visão de mundo em que apenas uma “elite” branca, cristã e rica merece direitos como saúde, educação e dignidade. Os demais são tratados como subprodutos da espécie humana.

Temos nos acostumado com tamanha desigualdade e preconceito que perdemos a capacidade de nos indignar diante das injustiças. Não nos perturba mais ver crianças latino-americanas em jaulas na fronteira dos EUA, famílias palestinas sendo destruídas por soldados israelenses ou corpos negros boiando no mar.

É preciso enfrentar essa necropolítica por meio da biopolítica, que busca a redução da desigualdade social e a defesa do meio ambiente. Precisamos combater preconceitos como o racismo, a misoginia, a homofobia e o fundamentalismo religioso.

Como disse Marx, o caminho para a humanização da humanidade é longo. Devemos seguir o exemplo do Papa Francisco, que propõe uma economia alternativa ao capitalismo.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor

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