
Nesta sexta-feira (17), a Netflix disponibiliza em sua programação um documentário que revisita esse caso. Com direção de Claudio Manoel e Micael Langer, “Isabella: O Caso Nardoni” se baseia em uma ampla pesquisa de material de arquivo e em entrevistas recentes com pessoas envolvidas, com o objetivo de relembrar e proporcionar uma reflexão sobre esse trágico acontecimento.
“A ideia é manter o caso na memória. Foi algo marcante. Todos que viveram nessa época se lembram, mas muitas coisas já foram esquecidas”, afirma Manoel. “E também serve para a nova geração, que não presenciou esse episódio.”
O documentário “Isabella” surge como parte de uma série de produções do subgênero true crime, que relembra crimes que causaram comoção pública. Séries como “Marielle: O Documentário”, do Globoplay, sobre o homicídio da vereadora Marielle Franco em 2018, e “Pacto Brutal”, da HBO Max, sobre a morte da atriz Daniella Perez em 1992, também exploram esse tema.
“No nosso filme, propomos uma discussão não apenas sobre o caso em si. Há toda uma história humana, envolvendo pessoas que passaram por essa dor e reconstruíram suas vidas. E que estão presentes até hoje, especialmente a mãe e a avó de Isabella, que são exemplos”, afirma Manoel. “Isso diferencia nosso trabalho dos demais filmes e séries, pois há uma preocupação com a delicadeza e com a memória de uma menina cuja vida foi interrompida.”
O documentário começa e termina com depoimentos da mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, e de seus familiares. Além de abordar o caso, ela relata detalhes sobre a convivência familiar antes da morte da menina e sua vida atual, com filhos de um novo relacionamento.
No entanto, são nos depoimentos de juízes, promotores, policiais, peritos, advogados e jornalistas que os diretores concentram seus esforços. O tema da superexposição dos fatos e pessoas envolvidas no caso permeia todo o documentário.
São mencionados, por exemplo, a instalação de banheiros químicos para a população do lado de fora da delegacia no dia do interrogatório dos acusados, e a montagem de equipamentos de som em frente ao tribunal onde ocorreu o julgamento, permitindo que a multidão ouvisse a leitura da sentença que condenou Alexandre e Anna Carolina.
O filme também contesta as investigações e perícias do caso. Há espaço para discussões sobre se a polícia partiu de uma convicção sobre a culpa dos dois acusados, direcionando assim a apuração para provar a responsabilidade do casal na morte de Isabella. Análises da advogada Flávia Rahal, membro do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa), trazem luz a esse tema.
Uma das questões levantadas pelo documentário diz respeito ao depoimento de um pedreiro que trabalhava em um prédio próximo ao local onde Isabella morreu. Em entrevista ao repórter especial Rogério Pagnan, autor do livro “O Pior dos Crimes – A História do Assassinato de Isabella Nardoni” e consultor do documentário, o pedreiro mencionou que o imóvel teria sido arrombado, abrindo a possibilidade de que uma terceira pessoa fosse responsável pela morte da menina e tivesse escapado por lá.
Após a publicação da matéria pelo jornal Folha de S.Paulo, o pedreiro foi levado pela polícia para prestar depoimento e mudou sua versão, negando inclusive ter falado com o repórter, embora a entrevista tenha sido gravada.
“Nessa história, que traz muitos elementos sobre o país, abordamos como as pessoas reagem a certas situações. Temos a questão da família, da dor, da perda, mas também abordamos a investigação, o comportamento das pessoas e a mídia”, explica Langer, um dos diretores.
Há também uma interessante análise sobre Jatobá, vista como vítima da relação patrimonial com o marido – a exagerada dependência financeira de Alexandre pode ter influenciado seu comportamento.
“É uma tese”, afirma Langer. “Achamos que era pertinente levantar essa questão, mas sem determinar se aconteceu isso ou aquilo.”
Tanto Nardoni quanto Jatobá se recusaram a dar entrevistas para o documentário. Desde junho deste ano, ela cumpre pena em regime aberto, enquanto ele se encontra em regime semiaberto desde 2019, com saídas ocasionais. Muitas pessoas acreditam que a pena foi muito branda, mas Manoel prefere enxergar a situação por outro ângulo.
“Eles foram condenados de acordo com a lei, cumpriram suas penas dentro da lei e estão sendo soltos de acordo com a lei. A sociedade tem todo o direito de discutir a satisfação com isso, como em qualquer democracia. Mas há um arcabouço legal que foi seguido”, afirma o diretor.
Portanto, o documentário “Isabella: O Caso Nardoni” promete reavivar a memória desse crime que chocou o país, abrindo espaço para uma reflexão sobre as complexidades do caso e suas repercussões na sociedade brasileira.