Descobertas sobre o milho ancestral no norte de Minas Gerais
Um estudo recente publicado na revista Science Advances revelou resquícios do milho cultivado no norte de Minas Gerais entre 1.000 e 600 anos atrás. Esses vestígios indicam que os indígenas brasileiros daquela época preservaram formas extremamente antigas da planta, semelhantes às que existiam quando o cereal foi domesticado no México.
Essa forma ancestral do milho era caracterizada por espigas magrinhas, com menos de oito grãos por fileira, lembrando o teosinto, seu ancestral selvagem. A pesquisa, liderada por Flaviane Malaquias Costa, da USP de Piracicaba, e Fabio de Oliveira Freitas, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, revela novas pistas sobre a participação dos povos pré-colombianos do Brasil no desenvolvimento da agricultura nas Américas.
O estudo apoia a ideia de uma domesticação estratificada do milho, com formas iniciais do cultivo chegando à região amazônica há aproximadamente 7.000 anos atrás. Essas formas se espalharam pela América do Sul, culminando em diferentes raças de milho. O Peruaçu, em Minas Gerais, foi palco dessas descobertas, apresentando tanto a variante antiga quanto a forma “melhorada” do cereal.
Os padrões genéticos chegaram ao Peruaçu e foram contemporâneos em algum momento dessa história. Mas o que é realmente incrível é ainda aparecer esse padrão morfológico mais primitivo naquela região.
Segundo Freitas, a persistência do milho primitivo em uma região tão distante de suas origens mexicanas é intrigante, levantando questões sobre os processos que permitiram essa conservação. A diversidade genética das plantas no Peruaçu sugere um cruzamento frequente entre variedades, indicando uma prática ancestral de preservar múltiplas formas da planta.
Atualmente, as populações indígenas ainda valorizam a variedade das plantas cultivadas, reconhecendo que diferentes variedades podem sobreviver em condições climáticas adversas. Além disso, plantas agrícolas associadas a sepultamentos indicam possíveis significados rituais atribuídos a essas espécies.
