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Funcionários de frigoríficos ignoram dores e lesões por medo de demissão: “Se não entrega, não presta, não tem mais valor”

Funcionários de frigorífico relatam jornadas extenuantes e medo de demissão por doenças laborais

O ambiente de trabalho em frigoríficos é conhecido pela intensidade do ritmo de produção, o que muitas vezes leva os funcionários a ignorarem dores e lesões para não correrem o risco de serem demitidos por não atingirem as metas estabelecidas. Esse é o relato de Silvia* e Alice*, trabalhadoras da JBS em São Miguel do Guaporé (RO), que se viram obrigadas a seguir trabalhando mesmo estando machucadas.

Silvia recorda o momento em que cortou o dedo e decidiu não informar a ninguém, apenas colocando duas luvas e voltando imediatamente ao trabalho. Ao final do turno, ao tratar da ferida, a trabalhadora precisou levar pontos para fechá-la. Já Alice revela que trabalhou todos os dias mesmo tendo sido diagnosticada com dengue.

Segundo Marcos*, ex-desossador da JBS em Pimenta Bueno (RO), a maioria dos trabalhadores sente dores nos braços, mas continuam trabalhando até não poder mais suportar. “Se não entrega, não presta, não tem mais valor”, resume ele.

Essa cultura de resistência à dor e às doenças laborais é alimentada pelo medo de perder benefícios, como o adicional de assiduidade, e até mesmo o emprego em caso de necessidade de atestado médico. O procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho da 14ª Região, Carlos Alberto Lopes de Oliveira, confirma que muitos trabalhadores temem relatar problemas de saúde à empresa, o que pode levar a consequências graves no futuro.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de Rondônia (Sintra-Intra), Marcos Cardoso dos Santos, reforça que o ambiente de trabalho nos frigoríficos é extremamente desgastante e que muitos funcionários estão chegando ao limite de suas capacidades.

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