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Recentemente, os atentados contra figuras notórias na política têm chamado a atenção da sociedade, porém, são apenas a ponta do iceberg. O uso de linguagem abusiva tem mirado cada vez mais em categorias vulneráveis em termos de direitos, como mulheres, não brancos, pessoas LGBTQIA+, povos originários, estrangeiros, moradores de regiões menos desenvolvidas e todos aqueles considerados diferentes. Esse binarismo do “nós contra eles”, base discursiva do populismo, tem contribuído para a criação de opositores, onde um é tido como virtuoso e o outro como ameaçador, resultando muitas vezes em vitimização de pessoas que jamais teremos conhecimento dos seus nomes.
A liberdade para odiar está sendo disseminada em uma sociedade que cultua a armamentista, o que abre caminho para um ciclo perigoso que começa com o uso de retórica violenta e termina em atos de violência reais. Apesar da maioria das pessoas não colocarem em prática esse ódio, basta apenas um para desencadear uma tragédia.
Uma medida sensata para tentar conter esse cenário seria responsabilizar os “superspreaders” – figuras públicas que têm representação política e disseminam discursos de ódio e extremismo, muitas vezes autorizando e incentivando seus seguidores a agirem em seu nome.
Infelizmente, o controle sobre a propagação desse tipo de discurso, que muitas vezes se esconde atrás da falsa máscara da liberdade de expressão, não tem sido eficaz. Pelo contrário, essas figuras são recompensadas com mais visibilidade pelos algoritmos das mídias sociais.
Como alerta a jornalista filipina Maria Ressa, ganhadora do Nobel da Paz, se nada for feito para mudar essa realidade, as coisas tendem a piorar antes de melhorar.