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O caso da rachadinha foi enterrado posteriormente, por questões processuais, nos tribunais de Brasília. Primeiro no Superior Tribunal de Justiça. Depois, no Supremo Tribunal Federal. E os depósitos que pingaram na conta de Michelle permanecem até hoje como um mistério à espera de explicação.
O Brasil estava às voltas com a pandemia da Covid. Bolsonaro transformara o cercadinho do Alvorada em palco de entrevistas-espetáculo permeadas de agressões aos repórteres. Assombrava o país com a defesa da hidroxicloroquina como elixir mágico para a cura da Covid.
Em 24 de agosto de 2020, véspera do encontro da cúpula da inteligência sobre a rachadinha, o capitão recebera no Planalto um grupo de médicos adeptos da poção anticientífica.
O encontro foi trombeteado no site do Planalto. Ao discursar, Bolsonaro declarou: Se a hidroxicloroquina “não tivesse sido politizada, muito mais vidas poderiam ter sido salvas dessas 115 mil, que o Brasil chegou nesse momento”. A inepcia negacionista, contribuiu para elevar o número de cadáveres a mais de 700 mil.
No fatídico agosto de 2020, os cadáveres proliferavam contra um pano de fundo tisnado pela rachadinha. No início daquele mês, reportagem da Folha revelara que os desvios operados por Fabrício Queiroz foram potencializados por repasses provenientes do gabinete do próprio Bolsonaro quando era deputado federal.
Pendurada na folha salarial da assessoria parlamentar de Bolsonaro como funcionaria fantasma, a personal trainer Nathália Queiroz, filha do faz-tudo do capitão, repassava a maior parte do seu salário para o pai, lotado no gabinete do Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O sigilo bancário de Nathália foi quebrado mediante autorização judicial. Entre janeiro de 2017 e setembro de 2018, ela transferiu R$ 159,5 mil recebidos no gabinete de Bolsonaro para a conta de Queiroz. A cifra corresponde a 77% de tudo o que a personal trainer recebeu da Câmara federal.