Reflexões de Nancy Fraser sobre Feminismo e Capitalismo

A renomada filósofa Nancy Fraser tem provocado discussões sobre as relações de gênero e o sistema capitalista em sua mais recente obra “Destinos do Feminismo”. Em seu ensaio de 1994, “Depois do salário familiar”, Fraser aborda a desigualdade de gênero associada à estrutura familiar tradicional e questiona a sustentabilidade dessa dinâmica face ao declínio do Estado de bem-estar social.

Em sua entrevista à Folha, Fraser ressaltou a importância de repensar as relações de produção e reprodução dentro do capitalismo. Ela critica a divisão rígida do trabalho baseada no gênero, onde as mulheres são historicamente relegadas ao cuidado da casa e da família, enquanto os homens são associados ao trabalho formal.

Fraser argumenta que o feminismo contemporâneo precisa transcender as questões legais e abordar as estruturas materiais que perpetuam a desigualdade de gênero. Ela destaca a importância de reconhecer o trabalho de cuidado como central para o funcionamento do capitalismo e questiona a divisão tradicional entre produção e reprodução.

Além disso, a filósofa aponta para a necessidade de um feminismo mais inclusivo, que não se baseie em binarismos de gênero, mas sim em uma visão de cuidado universal. Fraser enfatiza a importância de repensar os direitos reprodutivos dentro do contexto capitalista e como esses direitos estão intrinsecamente ligados ao sistema econômico vigente.

Em meio a debates sobre neoliberalismo e progressismo, Fraser destaca a capacidade do feminismo de transcender essas categorias, sendo possível identificar correntes feministas tanto progressistas quanto conservadoras. Ela reconhece a complexidade das relações entre gênero, política e economia, e defende a necessidade de um feminismo engajado com diversas pautas sociais, como ambientalismo, antirracismo e justiça social.

Perfil de Nancy Fraser

Nancy Fraser, de 77 anos, é uma filósofa renomada formada em filosofia pela Bryn Mawr College e com doutorado pela City University of New York. Sua atuação na New School, em Nova York, tem sido fundamental para o avanço da teoria crítica e dos estudos de gênero.