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Matriz energética brasileira em debate
A matriz elétrica predominantemente hidráulica deu ao Brasil um lugar privilegiado na corrida pela transição energética ao colocar o país entre os que são mais limpos do que aqueles que queimam combustíveis fósseis para o mesmo fim.
Essa predominância da energia limpa, porém, encolheu nos últimos anos. Um estudo da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) revelou que o percentual de fontes consideradas limpas caiu de 97% para 89% desde 1995.
De acordo com a Fiemg, a mudança no gráfico de matrizes energéticas se deve ao crescimento da participação das fontes não renováveis, principalmente das termelétricas a gás.
As térmicas a carvão e diesel, juntamente com as usinas nucleares, também estão entre as não renováveis. Esse aumento no percentual em relação ao total foi observado a partir dos anos 1990, chegando a ultrapassar os 20% em 2010 e atualmente representam 10,6% do total.
Mesmo com o avanço de outras fontes, como solar, biomassa e eólica, que ocuparam parte do espaço da geração hidráulica, que já era de 94,2% em 1995 e ficou em 64% em 2022, a fatia considerada limpa da matriz energética registrou um encolhimento.
A entidade da indústria tem lutado pela retomada da construção de hidrelétricas e acredita que o governo está disposto a discutir o assunto. O presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, defende que as hidrelétricas foram injustamente estigmatizadas como prejudiciais ao meio ambiente.
Os especialistas do setor elétrico destacam que somente a fonte hidráulica é capaz de garantir estabilidade na geração de energia. Já as fontes solar e eólica, queridinhas dos investidores, são intermitentes. Por outro lado, as térmicas geram energia continuamente, porém a um preço mais alto.
A combinação entre as fontes hidráulica, solar e eólica, juntamente com outras fontes limpas, poderia garantir a segurança no fornecimento de energia e manter o Brasil com uma matriz energética sustentável, de acordo com a Fiemg.
A construção de novas hidrelétricas é defendida também como uma forma de viabilizar a participação do Brasil como protagonista da economia limpa. Além disso, o país se comprometeu com o Acordo de Paris, que exige a redução nas emissões de gases de efeito estufa.
Os dados da EPE mostram que as hidrelétricas responderam por 78% da energia gerada entre 1970 e 2022, enquanto as termelétricas ficaram com 18%. No mesmo período, as termelétricas foram responsáveis por 79% das emissões de GEE, enquanto as hidrelétricas emitiram 20%.
O presidente da Fiemg ressalta que o governo reconhece a importância das hidrelétricas, mas há divergências em alguns ministérios quanto a essa questão. “Nossa maior preocupação é a área ambiental, onde o problema precisa ser resolvido”, afirma Roscoe.