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Estudo aponta mudanças climáticas como fator impulsionador de incêndios devastadores no Canadá.




Incêndios florestais no Canadá são sete vezes mais prováveis devido às mudanças climáticas

Incêndios florestais no Canadá são sete vezes mais prováveis devido às mudanças climáticas

Estudo aponta que queima de combustíveis fósseis intensifica temporadas de incêndios

Meses de clima quente e seco criaram as condições para a onda de incêndios florestais recorde deste ano no Canadá, o que levou cientistas a apontarem o dedo para as mudanças climáticas.

Um estudo extenso, publicado nesta terça-feira (22), agora apoia essa afirmação, ao demonstrar que temporadas de incêndios desta intensidade são pelo menos sete vezes mais propensas de ocorrer como resultado da queima de combustíveis fósseis.

O estudo, realizado pelo grupo de colaboração acadêmica World Weather Attribution, também descobriu que, ao longo do ano, condições propícias para a ocorrência de incêndios foram 50 vezes mais intensas devido ao aquecimento global.

“Enquanto continuarmos a aquecer o planeta, este tipo de evento vai se tornar cada vez mais frequente e mais intenso”, disse à AFP Clair Barnes, estatística ambiental do Imperial College de Londres e principal autora do estudo.

Onda de incêndios devastadores no Canadá

O Canadá sofre com a onda de incêndios mais devastadora já registrada, resultante de uma alta recorde de temperaturas, baixa umidade e derretimento precoce da neve. Cerca de 15,3 milhões de hectares foram queimados, uma área maior que a Grécia, e mais que o dobro do recorde anterior, registrado em 1989.

Cerca de 200 mil pessoas foram evacuadas, ao menos quatro morreram e a fumaça das florestas queimadas resultou na disseminação da perigosa poluição do ar para grande parte do Canadá até o sul dos Estados Unidos, levando a picos de buscas por serviços de emergência e inclusive ao fechamento de escolas.

Impacto do aquecimento global

Até o fim de julho, os incêndios florestais tinham emitido diretamente mais de um bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, assim como metano e óxido nitroso, que tiveram um efeito estufa combinado equivalente adicional de 110 milhões de toneladas de CO2, segundo uma pesquisa recente.

No estudo atual, os cientistas analisaram a província de Quebec, no leste do Canadá, observando zonas com clima e vegetação similares. A região registrou um número excepcionalmente alto de incêndios em maio e junho, quando os recordes de temperatura foram superados em 0,8°C.

Como os incêndios florestais são muito complexos e não provocados exclusivamente pelo clima, os cientistas se concentraram em condições favoráveis ao fogo, usando uma métrica denominada Índice Climático de Incêndio Florestal (Fire Weather Index, FWI, em inglês).

O índice combina temperatura, velocidade do vento, umidade e precipitação. A equipe de pesquisa compilou esses dados de janeiro a julho para produzir uma medida da severidade do risco meteorológico de incêndio para toda a temporada.

Enquanto os incêndios no Quebec foram sem precedentes, análises dos registros climáticos recentes indicaram que as condições sazonais que causam o fogo não são mais excepcionais, ocorrendo uma vez a cada 25 anos. Isto significa que agora eles têm 4% de riscos de ocorrer a cada ano.

Para entender a contribuição do aquecimento global provocado pelo homem, os pesquisadores usaram simulações de modelos de computador para comparar o clima como é hoje, após cerca de 1,2°C de aquecimento global desde o fim dos anos 1800, ao clima do passado.

Essa análise demonstrou que as mudanças climáticas fizeram com que temporadas com esta severidade se tornassem ao menos sete vezes mais propensas de ocorrer em comparação com a era pré-industrial. Barnes reforçou, no entanto, que esta é uma estimativa tímida, uma vez que os cientistas preferem ser conservadores devido à incerteza estatística.

Comunidades indígenas, as mais atingidas

Yan Boulanger, ecologista no Serviço Florestal Canadense, e segundo autor do estudo, disse à AFP que o impacto cumulativo das circunstâncias favoráveis ao incêndio foram decisivas. “Estes incêndios ficaram tão grandes porque estas condições climáticas propensas ao incêndio duraram demais.”

A equipe também identificou a extensão de dias em que essas condições climáticas propensas aos incêndios atingiram seu auge, e descobriu que essas condições de pico foram mais de duas vezes mais propensas de ocorrer do que no passado devido às mudanças climáticas.

Se o mundo continuar a queimar combustíveis fósseis a taxas elevadas, a probabilidade e a intensidade da ocorrência de condições climáticas propensas a incêndios severos só irá aumentar, reforça o estudo.

Os incêndios põem em risco o setor de silvicultura, alerta Boulanger, que se questiona se os esforços para regeneração da vegetação conseguirão acompanhar as perdas.

As comunidades mais afetadas pelo fogo são remotas e têm recursos relativamente limitados: 75% dos evacuados em julho eram integrantes de povos indígenas.

“Esta severidade crescente de eventos extremos e a probabilidade de ocorrência de eventos extremos não vão parar até que alcancemos a emissão zero e paremos de emitir gases-estufa adicionais na atmosfera”, disse Barnes, acrescentando que “não é tarde demais” para pressionar os líderes políticos a mudar o curso.

O World Weather Attribution é um grupo de colaboração internacional que realizou até agora mais de 50 estudos sobre eventos climáticos extremos, com resultados revistos posteriormente por pares em publicações especializadas.


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