Avó de Eloah, fatalmente atingida no Rio, relembra angustiante visual do tiro cravado no peito da sua querida neta.

Durante o velório, a avó materna da menina não poupou palavras ao pedir justiça pelo ocorrido. Emocionada, ela relembrou o momento em que viu a neta sem vida. “Sou vizinha da minha filha. Escutei os tiros e gritos, fui correndo. Vi minha filha com ela nos braços e o tiro no meio do peito. Foi brutal. Um tiro para matar, uma criança de cinco anos, sem defesa nenhuma”, disse Simone Santos.
O enterro ocorreu no início da tarde e o caixão de Eloah era branco, seguindo a tradição para crianças. Seu pai o carregou sozinho nos ombros até a cova, prometendo que estaria com ela para sempre. Durante o trajeto, fogos de artifício foram estourados, balões brancos foram soltos e as pessoas presentes aplaudiram e entoaram o nome da menina.
A irmã de Eloah foi consolada pelo pai e teve a oportunidade de jogar uma flor no túmulo da garota. A mãe, carregando a filha mais nova, de apenas três meses, preferiu não conceder entrevistas.
Uma parente, que preferiu não se identificar, ressaltou que Eloah era uma criança alegre, que frequentava uma creche particular e amava dançar balé. Dentre suas roupas de bailarina, a pequena tinha uma predileção pela cor azul.
Os presentes à cerimônia se lembraram do sorriso contagiante de Eloah e da sua felicidade no “mesversário” da irmã, comemorado apenas um dia antes. A menina estava pulando na cama após saborear doces da festa quando foi atingida.
Antônio Carlos Costa, do Instituto Rio de Paz, informou que a família de Eloah deseja um encontro com o governador Cláudio Castro (PL). “Infelizmente, trata-se de uma política de segurança pública que segue uma espécie de pressão política exercida por um setor da sociedade que julga que com truculência nós vamos dar conta do problema endêmico, histórico que enfrentamos na área da segurança pública”, disse durante o enterro.
O Instituto Rio de Paz também monitora casos de crianças baleadas. Segundo a ONG, Eloah é a 15ª vítima de bala perdida com idade até 14 anos em todo o estado nos últimos dois anos.
A tragédia que vitimou Eloah ocorreu após a morte de um jovem. De acordo com a Secretaria de Polícia Militar, equipes do 17º Batalhão estavam patrulhando a avenida Paranapuã quando tentaram abordar dois homens em uma motocicleta. O ocupante da garupa estava armado com uma pistola e teria disparado contra os policiais, que revidaram. O adolescente foi levado em estado grave para o Hospital Municipal Evandro Freire, onde chegou sem vida.
Os moradores da comunidade do Dendê protestaram e incendiaram dois ônibus na avenida Paranapuã após a morte do jovem. Foi durante esse protesto que Eloah foi atingida por uma bala perdida dentro de sua própria casa, cenário trágico que mostra como a violência afeta innocent lives.