
Em meio ao lançamento de um novo livro, os leitores buscam nas páginas pistas sobre o que os aguarda na história que irão embarcar. No desfecho de “O Embranquecimento”, deparam-se com uma confissão reveladora. O autor, o sociólogo e escritor Evandro Cruz Silva, 32 anos, compartilha sua motivação ao criar a trama protagonizada por uma mulher negra.
O romance, que será apresentado na Flip, aborda a trajetória de Macária, uma doutora em ciências humanas e artes plásticas, que se vê imersa na dualidade de sua ascensão social e suas origens humildes. Filha de uma faxineira e de um dependente químico, Macária se sente como uma “pobre qualificada”, confrontando desafios e dilemas de identidade.
A narrativa de Silva reflete a experiência comum a muitos negros brasileiros que conquistaram espaços e oportunidades, porém enfrentam a solidão daqueles que buscam resolver intelectualmente suas questões pessoais. O autor, que também trilhou o caminho acadêmico, comenta sobre a solidão inerente à jornada intelectual e sua necessidade de se distanciar de si mesmo para compreender-se.
A trama de “O Embranquecimento” mergulha na temática da miscigenação e do embranquecimento forçado, explorando a relação da protagonista com sua cor parda e as pressões sociais para se adequar a um padrão de branquitude. Macária, em um relacionamento não monogâmico, confronta as oportunidades de embranquecer em uma sociedade racista, destacando a importância de fazer escolhas diante das adversidades.
Silva surpreende os leitores ao desconstruir os estereótipos sugeridos pelo título e pela referência ao quadro de Modesto de Brocos, trazendo à tona nuances da vivência negra. Ao abordar questões cotidianas e complexas, o autor estabelece uma conexão empática com o público, convidando à reflexão e ao diálogo sobre identidade, solidão e pertencimento.