As Intermitências da Morte: uma reflexão sobre vida, morte e imortalidade

Recentemente, após a leitura do artigo “A dura realidade da mortalidade: reflexões inspiradas em Mortais, de Atul Gawande”, uma discussão se instaurou entre colegas sobre obras que abordam a temática da vida e da morte.

É neste contexto que surge uma recomendação especial: o livro “As Intermitências da Morte”, escrito por José Saramago e publicado pela Companhia das Letras em 2020. Esta obra é uma verdadeira provocação à reflexão sobre a finitude humana.

No enredo desta narrativa, somos levados a um cenário fictício no qual a morte, de forma inesperada, decide parar de exercer sua função. O que inicialmente parece um milagre, logo se transforma em caos. Em um país onde as pessoas simplesmente deixam de morrer, o impacto é devastador: idosos e doentes permanecem em sofrimento, funerárias enfrentam falência, hospitais lotam e a própria igreja se depara com um dilema espiritual profundo.

Com sua característica ironia e profundidade, José Saramago expõe de maneira brilhante as complexas relações entre vida, morte e as estruturas sociais. O autor nos faz refletir sobre como a ausência da morte não afeta apenas a vida de cada indivíduo, mas também as instituições que regem a sociedade.

A passagem emblemática em que o primeiro-ministro e o cardeal se veem diante do desafio de lidar com a crise gerada pela intermitência da morte revela as fragilidades e questionamentos humanos diante da finitude. José Saramago, nascido em Portugal, se tornou um dos maiores nomes da literatura em língua portuguesa, sendo premiado com o Nobel de Literatura em 1998 e o Prêmio Camões em 1995.

Com “As Intermitências da Morte”, Saramago nos convida a repensar não apenas a condição humana, mas também a própria essência da existência. O que significa viver em um mundo onde a morte decide ser intermitente? Como lidar com a passagem do tempo e a efemeridade da vida?

Este livro não é apenas uma obra de ficção: é uma provocação, um convite à reflexão sobre as complexidades da existência e a importância de reconhecer a finitude como parte integrante da vida. José Saramago, em sua genialidade literária, nos presenteia com uma história que transcende o tempo e nos faz questionar o que significa ser humano.