
Bruno Jorge está na Europa para apresentar seu longa-metragem de 144 minutos, filmado na floresta Amazônica, em diversos festivais internacionais. Um dos principais eventos do continente dedicado exclusivamente a documentários é o Brésil en Mouvements, ou Brasil em Movimentos, criado em 2005 pela Associação Autres Brésils. Nesta quarta-feira (27/09), o diretor apresentou o filme em Biarritz, onde o Festival de Cinema América Latina vai até sexta-feira (29/09).
“É um prazer enorme, porque parte da minha formação foi feita na França, em Paris. Então, sempre quando eu apresento um filme aqui, é algo muito especial”, comemora o diretor. Ele enfatiza a importância de Biarritz como porta de entrada do cinema latino-americano na Europa e destaca a forte conexão de seu filme com o contemporâneo e sua intemporalidade que ele considera importante discutir.
Bruno Jorge tem uma formação em comunicação e estudou cinema documental na ESEC em Paris. Ele possui mestrado em Artes do Espetáculo pela Universidade de Liège, na Bélgica, e também estudou em Toronto, no Canadá, e na EICTV em Havana, Cuba. Influenciado pelas áreas de etnografia e antropologia visual, bem como pelo cinema experimental, ele já dirigiu mais de 20 filmes.
O documentário “A Invenção do Outro” acompanhou a arriscada expedição da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) em 2019, em busca de um grupo da etnia Korubos, indígenas isolados e vulneráveis, em seu primeiro contato com o homem branco. O filme retrata um encontro complexo, sofisticado e cheio de arestas, que representou um ponto de inflexão existencial para o diretor.
“Foi a primeira vez que acompanhei o que a gente chama de primeiro contato. Existe inclusive uma cinematografia brasileira sobre esse tema que estudei antes da missão”, acrescenta Bruno Jorge.
A expedição de cerca de trinta pessoas tinha como objetivo estabelecer contato com familiares dos indígenas que haviam se perdido. O filme retrata momentos emocionantes quando os Korubos encontram seus irmãos dos quais estavam separados há muito tempo.
“Era uma expedição humanitária. A política da Funai é de não contato com os isolados. Porém, foi aberta uma exceção para que pudesse ser estabelecido esse contato. A princípio, era para fazer esse reencontro de parentes que se separaram três, quatro anos antes, por conta de uma guerra étnica histórica com outra etnia. E eles não sabiam que esses parentes estavam vivos”, conta Bruno Jorge.
Essa guerra histórica estava dizimando o grupo Korubos, pois os Matis, que estavam em conflito com eles, estavam em contato com a cidade, voltando para a floresta com armas e vírus. Parte dos Korubos já estava morrendo. A expedição também teve como objetivo vacinar todos para diminuir fatalidades.
O filme de Bruno Jorge retrata essa história complexa de forma intensa e emocionante, destacando a importância do primeiro contato entre culturas diferentes e a necessidade de preservar e valorizar os povos indígenas.