As mudanças climáticas têm impacto direto nas línguas de sinais, influenciando e causando alterações significativas.

Para crianças surdas, professores e cientistas, falar sobre temas como “gases de efeito estufa” ou “pegada de carbono” significava soletrar termos científicos longos e complexos, letra por letra.
Agora esses conceitos estão entre os 200 termos da ciência ambiental que têm seus próprios novos sinais oficiais na Língua de Sinais Britânica (BSL).
Os cientistas surdos e especialistas em linguagem de sinais por trás da atualização esperam que o novo vocabulário torne possível para pessoas surdas participar plenamente das discussões sobre mudanças climáticas, seja no laboratório de ciências ou na sala de aula.
“Estamos tentando criar sinais perfeitos que visualizem conceitos científicos”, explica Audrey Cameron, líder do projeto de língua de sinais na Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Alyssa Raquel, professora do ensino fundamental e mãe de uma aluna surda, afirmou que essa iniciativa é muito importante, pois garante que pessoas surdas tenham acesso à ciência de forma mais inclusiva.
Muitas vezes, as crianças surdas têm dificuldade em acompanhar o ensino de ciências nas escolas, pois a linguagem utilizada é voltada para ouvintes e não leva em consideração suas necessidades e forma de comunicação.
Essa barreira linguística pode resultar em exclusão social e falta de compreensão dos conceitos científicos, o que pode prejudicar o aprendizado e o desenvolvimento desses alunos.
Com a adição dos novos sinais no dicionário BSL, espera-se que crianças surdas possam compreender e participar ativamente das aulas de ciências, além de se envolverem nas discussões sobre mudanças climáticas e questões ambientais.
Os novos sinais incluem termos relacionados à biodiversidade, ecossistemas, poluição e ambiente físico.
Por exemplo, o sinal para “fotossíntese” utiliza a forma de uma mão plana para representar uma folha, enquanto projeta os dedos como os raios do sol, visualizando assim o processo de absorção de energia pela folha.
Essa linguagem visual facilita a compreensão de conceitos abstratos e complexos, permitindo que as crianças surdas desenvolvam um entendimento mais aprofundado da ciência.
O projeto de glossário científico, financiado pela Royal Society, começou em 2007 e já adicionou cerca de 7 mil novos sinais à BSL.
Ao longo dos anos, os cientistas surdos e especialistas em linguagem de sinais trabalharam em conjunto para desenvolver e aprimorar sinais que representem com precisão os conceitos científicos, ao mesmo tempo em que sejam visuais e compreensíveis.
O novo glossário de termos científicos é um recurso valioso para crianças surdas nas escolas, como bem destacou Melissa, uma aluna surda de 13 anos de Glasgow:
“Eles realmente ajudam você a entender o que está acontecendo. Com o sinal, posso ver que algo está acontecendo com o gás”, disse ela, referindo-se ao novo sinal para “gases de efeito estufa” que inclui movimentos dos punhos fechados representando moléculas de gás no ar.
O uso da linguagem de sinais nas aulas de ciências permite que crianças surdas aprendam em sua língua natural e tenham acesso às mesmas oportunidades educacionais que as crianças ouvintes.
Além disso, essa iniciativa também tem um impacto positivo nos estudantes ouvintes, pois ajuda a tornar a ciência mais visual e compreensível para todos.
Como disse Cameron, após observar uma aula em que crianças de cinco anos utilizaram o sinal para “densidade” para explicar por que as coisas flutuam ou afundam:
“Eu vi o impacto que isso pode ter. E minha paixão cresceu à medida que o glossário cresceu.”
Espera-se que esses novos sinais inspirem e capacitem a próxima geração de estudantes que utilizam a linguagem de sinais e permitam que cientistas compartilhem seu trabalho vital com o mundo.