
O Presidente Jair Bolsonaro não errou no cálculo, mas sim perdeu porque quis. Foi uma decisão premeditada. Trocou o eleitor pela militância, com receio de perdê-la.
As eleições municipais marcaram um enfraquecimento do bolsonarismo. As questões ideológicas foram deixadas de lado em favor das questões fisiológicas. Prevaleceu a ideia de que “é emendando que se recebe”.
Os mais de 30 bilhões de reais distribuídos por deputados e senadores antes mesmo do início da eleição resultaram em uma taxa recorde de reeleição de prefeitos, superior a 80%. Os partidos que lideraram o “emendismo” no Congresso saíram vitoriosos, como PSD, MDB, PP, União Brasil e Republicanos, além da ala fisiológica do PL de Valdemar.
Além de ter perdido espaço para o “emendismo”, Bolsonaro viu surgirem novas lideranças de direita, como Pablo Marçal e Nikolas Ferreira (PL-MG), ou ressurgirem, como Ronaldo Caiado (União-GO). O Presidente sofreu uma derrota em dobro.
A opção por privilegiar a militância em detrimento do eleitor é uma estratégia inspirada em outros movimentos de extrema-direita populista pelo mundo, especialmente no trumpismo. Nos Estados Unidos, engajar e energizar o ativista aumenta sua participação nas urnas. No Brasil, essa técnica funciona com menos eficácia devido ao voto obrigatório.
Outro fator crucial para a atitude “kamikaze” de Bolsonaro é a análise da cientista política Camila Rocha, uma das principais pesquisadoras da direita no Brasil. É essencial para o Presidente manter sua militância engajada tanto nas redes sociais quanto nas ruas. Comícios lotados são parte importante da imagem do bolsonarismo. Qualquer esvaziamento seria um golpe fatal.