DestaqueUOL

Inflação da picanha cai quase sempre em 2023 e 2024, mas preços de alimentos aumentam, preocupando a população

Inflação da Picanha: Um Análise Profunda

A inflação anual da picanha foi quase sempre negativa de janeiro de 2023 até setembro deste 2024. Isto é, o preço do corte de carne mais politizado do Brasil caía, se considerada a variação em 12 meses. Em abril, a picanha estava em média 11% mais barata do que no abril de 2023. A baixa pelo menos compensava parte dos aumentos pavorosos de 2021 (com altas anuais de mais de 30%).

O preço médio das carnes agora aumenta ao ritmo de 5,1% ao ano, na medida do IPCA-15 do IBGE (o da picanha, 4,1%). Contribuiu para o aumento da inflação dos alimentos que a gente leva para a casa, que agora está em 7% ao ano, na medida do mesmo IPCA-15, divulgado nesta quinta-feira (24), que mede a inflação média entre meados de um mês e meados do mês seguinte, outubro, neste caso. No ano passado, o preço médio da comida caíra 0,52%. E daí?

Inflação de alimentos a 6% ao ano costuma incomodar a opinião pública. Quando chega aos 10%, há irritação geral, com impacto na popularidade do governo.

A inflação geral média está em 4,5% ao ano, até baixa, para padrões brasileiros, mas no limite da meta que o Banco Central deve cumprir. Não há sinal de preços desembestados, mas a situação é desconfortável.

Segundo entendidos, o preço da carne sobe porque a demanda no mundo e aqui está forte, porque está interessante exportar também por causa do dólar caro, porque a seca prejudicou os rebanhos e houve queda no número de abates. Desde setembro, o preço da carne no atacado sobe. A seca prejudicou ainda a oferta de outras comidas.

O dólar beliscando os R$ 5,70 pode fazer mais estragos —pode haver mais repasse represado de custos. O aumento da média dos salários coloca mais pressão nos preços.

Por outro lado, a previsão da Conab é de nova safra recorde de grãos na temporada 2024-25. Pode ser que chova de modo decente e disseminado pelo país.

Um motivo óbvio de preocupação é o dólar. Além de todas as encrencas na economia mundial (ritmo de queda dos juros nos Estados Unidos, risco Trump, ritmo da economia chinesa), o fluxo de capital para o país não anda bem e, mais importante de tudo, a desconfiança no futuro dos déficits e da dívida do governo estressa as condições financeiras. Juros de mercado continuam na órbita marciana, embora talvez no pico do pior. O preço do dólar é outro sintoma do mal-estar, da crise de confiança.

O político médio ou quase qualquer cidadão não presta atenção à curva de juros, que sobe —não sabe, não quer saber e frequentemente tem raiva de quem sabe. Dólar a R$ 6 talvez viesse a impressionar o excelentíssimo senhor deputado. Não estamos lá, mas os danos já são relevantes. Com dólar caro, a política monetária (juros do Banco Central) tem problemas. A Selic vai aumentar mais. Em tese, isso resfria a economia e contém preços. Só é bom se for ruim.

Não precisamos desse estresse na curva de juros, no dólar, na Selic ou na picanha —principalmente no pão dos mais pobres. Quase qualquer pessoa adulta, sensata e dada à aritmética econômica, inclusive muitas daquelas adeptas deste governo federal, esperam que Lula ponha a mão na consciência, apesar das evidentes sabotagens de parte do governo contra Fernando Haddad e Simone Tebet. Esperam que, terminada a eleição municipal, se apresente algum plano decente a fim de dar sobrevida ao arcabouço fiscal e vida longa à picanha.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo