DestaqueUOL

A geração de guerreiros políticos: como a intolerância e a polarização estão moldando a visão da democracia nos jovens de hoje.

Reflexão sobre a Politização da Juventude Brasileira

Nos últimos 30 anos, tenho me deparado a cada semestre com uma nova turma de alunos, todos na faixa dos 20 e poucos anos, ansiosos por aprender sobre comunicação política. Esses jovens são o reflexo de uma realidade turbulenta e alucinante, pois o cenário político nacional tem sido nosso principal laboratório de estudo e reflexão.

Em uma de nossas conversas, abordamos a radicalização do debate político no país e me deparei com um questionamento cético de uma estudante: “Mas política não é sempre guerra e polarização?”. A sinceridade em sua pergunta e a concordância imediata de outros colegas me fizeram refletir sobre a visão que essa nova geração tem da política e seus desafios.

Expliquei então que, apesar das sociedades democráticas serem espaços de divergência, a política vai além do conflito aberto. Negociação, compromisso e consenso são elementos essenciais para a construção de projetos políticos comuns. A intolerância, polarização e dogmatismo que vivenciamos atualmente são resultado de escolhas que fazemos como sociedade, e não uma inevitabilidade.

Ao observar o olhar atento e surpreso dos jovens diante das minhas reflexões, percebi que essa geração foi moldada por um contexto político conturbado. Desde tenra idade, eles testemunharam conflitos abertos, sectarismo, ódio e a busca pela superioridade moral, moldando sua percepção sobre o que é normal na política brasileira.

Com o crescente surgimento de extremistas de diferentes vertentes, esses jovens foram doutrinados na ideia de que a política é uma guerra constante, onde escolher um lado e lutar pela sobrevivência são imperativos. No entanto, essa abordagem beligerante e maniqueísta não contribui para a formação de cidadãos democráticos.

Em um cenário onde tudo se torna política e política é guerra, a tolerância, o pluralismo e o respeito pelo contraditório acabam perdendo espaço. Como esperar então que essa nova geração valorize esses princípios fundamentais da democracia?

Diante desse contexto hostil, é fundamental que sejamos capazes de propor um convívio respeitoso entre diferentes visões e ideologias. A democracia, por mais desafiadora que seja, requer a capacidade de dialogar, negociar e chegar a compromissos, mesmo com aqueles que consideramos adversários.

Portanto, é urgente repensar a forma como estamos politizando e formando os jovens brasileiros. Devemos investir na construção de uma cultura política mais democrática, que valorize o debate de ideias e respeite a diversidade de opiniões, para assim garantir a sustentabilidade de nossa democracia no futuro.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo