Acidente de caminhões em Magé causa contaminação e impacta pescadores, alertam entidades ambientais e comunitárias.
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Um acidente entre dois caminhões na tarde da última terça-feira (1), no km 131 da BR-116, em Magé (RJ), provocou graves danos ambientais no rio Suruí e na Baía de Guanabara, afetando diretamente a vida dos pescadores e caranguejeiros da região. Um dos caminhões tombou à margem do rio, derramando 2.500 litros de emulsão asfáltica, enquanto o outro, que transportava gasolina e diesel, teve o conteúdo vazado em um terreno próximo, com drenagem direta para o rio, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). As informações são de Gabriel Tussini/Portal Eco.
O acidente ocorreu no primeiro dia do defeso do caranguejo-uçá e do guaiamum, espécies encontradas no Suruí, prejudicando sua reprodução. Rafael Pereira, presidente da Associação dos Caranguejeiros e Amigos dos Mangues de Magé (ACAMM), alertou sobre a contaminação: “A gasolina e o óleo diesel se espalharam até áreas de mangue no desemboque do rio. A emulsão asfáltica, por ser mais densa, ficou mais detida, mas ainda assim o impacto foi significativo.”
Impacto sobre a Baía de Guanabara
A contaminação se espalhou rapidamente, agravada pela maré de lua nova, que atinge grande altura nos dias próximos ao incidente. Alexandre Anderson, presidente da Associação Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (AHOMAR), afirmou que os poluentes alcançaram a Baía de Guanabara e atingiram áreas distantes, como a praia de Olaria, a mais de 3 km da foz do rio Suruí, e a praia dos Coqueiros, em Paquetá, a mais de 6 km de distância. “Detectamos mortandade de peixes e crustáceos, como robalos, tilápias, caranguejos e siris, tanto no rio quanto na baía,” relatou.
O ICMBio confirmou a presença de óleo nas Unidades de Conservação da região, incluindo a Zona de Amortecimento da Estação Ecológica da Guanabara e a Área de Proteção Ambiental (APA) Municipal do Suruí. A nota do instituto enfatiza que os poluentes afetaram diretamente áreas protegidas e que a remediação completa deve levar semanas.
Reação dos órgãos ambientais
A empresa responsável pelo transporte da emulsão asfáltica, Santa Luzia Engenharia e Construções LTDA, acionou a empresa JRC Ambiental para realizar a remoção do produto e a remediação do local. Já os trabalhos de retirada de gasolina e diesel estão sendo conduzidos pela Ambipar, contratada pela Riva e Guarani, responsável pelo transporte dos combustíveis.
O Instituto Estadual do Ambiente (INEA) informou que irá autuar as empresas responsáveis pelos caminhões-tanque e que notificou as empresas para manterem os trabalhos de sucção dos resíduos e iniciarem estudos de gerenciamento da área contaminada. No entanto, pescadores e caranguejeiros locais criticam a ausência de ações imediatas e efetivas por parte dos órgãos estaduais e municipais.
Falta de apoio e prejuízos
Apesar da gravidade da situação, representantes das comunidades pesqueiras reclamam da falta de apoio. Segundo Alexandre Anderson, durante uma reunião extraordinária do Comitê de Bacia da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara (CBH Baía de Guanabara), nenhum representante do setor de emergências do INEA ou da prefeitura de Magé compareceu. “O governo do estado e o governo municipal não deram as devidas satisfações,” afirmou Anderson.
Rafael Pereira, da ACAMM, também destacou que, até o momento, não houve qualquer auxílio financeiro para compensar as perdas dos pescadores e caranguejeiros. “A contaminação continua desde o dia 1º, com riscos de incêndio e explosão devido à presença de gasolina,” alertou.
Na Plenária Sudeste do Plano Nacional da Pesca, realizada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), foi aprovada uma moção de apoio às comunidades tradicionais pesqueiras de Suruí, denunciando a demora na retirada dos poluentes. Cristiano Ramalho, secretário nacional da Pesca Artesanal do MPA, gravou um vídeo em solidariedade às comunidades afetadas, afirmando o compromisso do governo em combater esse tipo de incidente.
Esclarecimentos da prefeitura de Magé
O secretário de Meio Ambiente de Magé, Carlos Henrique Rios Lemos, afirmou à reportagem que o rio Suruí “já está com as espécies se reproduzindo, nadando” e que “está tudo bem controlado”. No entanto, ele não retornou para fornecer relatórios ou mais detalhes sobre o impacto ambiental e as ações de limpeza.
A reportagem também procurou a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos e a Secretaria de Saúde de Magé para obter informações sobre o apoio aos pescadores e sobre o estado de saúde dos envolvidos, mas não obteve resposta até o momento.
Íntegra da nota do ICMBio
“Nota sobre o acidente rodoviário envolvendo dois veículos de transporte de combustível e emulsão asfáltica, que tombaram ao lado do Rio Suruí na BR – 493.
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