
Análise Econômica: O Impacto das Taxas de Juros no Mercado de Ações
Investir na Bolsa é como planejar uma longa viagem de carro. Você traça o caminho, verifica as condições do veículo e parte com o tanque cheio. No começo, tudo parece perfeito: a estrada bem pavimentada e você mantém uma boa velocidade. Mas, de repente, surgem buracos no asfalto. Mesmo com o carro em ótimas condições e com o destino em mente, você começa a pisar no freio, preocupado com o que vem pela frente. A economia, mesmo em crescimento, também enfrenta “buracos” que fazem os investidores desacelerarem. Esses buracos, ultimamente, têm sido as taxas de juros.
Quando olhamos para o valor de uma empresa, quatro fatores fundamentais entram em cena. O primeiro deles é o crescimento das receitas. Se a economia está crescendo, as empresas geralmente aumentam suas vendas, e isso tende a ser algo positivo. Afinal, mais crescimento costuma indicar mais lucro, o que eleva o valor de mercado das companhias. Mas, como na viagem, só ter o tanque cheio (crescimento) não é suficiente para garantir que tudo correrá bem até o destino.
O segundo fator é a margem de lucro. De nada adianta vender mais se cada venda não gera um lucro satisfatório. Empresas com margens robustas conseguem transformar um aumento de receitas em um crescimento expressivo dos lucros. Portanto, manter margens saudáveis em períodos de expansão é crucial para melhorar a avaliação de uma empresa. Assim como numa viagem, não basta estar em movimento; é preciso ser eficiente no consumo de combustível.
O terceiro ponto é o giro do capital. Esse fator nos diz quanto de investimento a empresa precisa para sustentar o crescimento. Quanto menos capital ela necessitar para crescer, mais eficiente será. Em outras palavras, se a empresa consegue “rodar mais quilômetros” com menos combustível (capital), isso melhora sua avaliação no mercado. Esse é um indicador da eficiência da empresa em usar seus recursos.
Por fim, chegamos ao custo de capital, que, no momento, é o buraco mais temido da estrada. Quando as taxas de juros sobem, o custo de financiar as operações das empresas aumenta, diminuindo o valor que elas têm no mercado. Além disso, o risco país e a inflação entram na equação, tornando o custo do dinheiro ainda mais alto. E isso tem sido uma das principais razões por trás da queda recente da Bolsa como explico a seguir.
Desde o fim de agosto, quando o Ibovespa atingiu sua máxima histórica de 137,46 mil pontos, a taxa de juros de 10 anos, uma referência importante para a avaliação das empresas, subiu cerca de 0,7%. Utilizando modelos de avaliação, essa alta aparentemente pequena pode resultar numa queda de cerca de 6% no valor justo das companhias. De fato, nesse mesmo período, o Ibovespa se desvalorizou 5,5%, o que mostra como as oscilações nos juros estão diretamente impactando os preços das ações.
O grande ponto de incerteza agora é se os juros continuarão subindo. Caso isso aconteça, podemos ver um impacto ainda maior nos preços das empresas. E, pior ainda, se essa alta afetar o crescimento econômico, o cenário pode se complicar ainda mais para os investidores. Quanto maior o custo de capital, maior a dificuldade para as empresas financiarem seus projetos, o que pode desacelerar seu crescimento futuro.
Assim como na viagem de carro, você pode estar num caminho promissor, mas se os buracos na estrada se multiplicam, o destino final parece cada vez mais distante. O cenário atual é esse: o crescimento econômico está acontecendo, mas o “clima” das taxas de juros está atrapalhando a jornada. E enquanto esses buracos continuarem surgindo, os investidores provavelmente vão manter o pé no freio, apesar do ritmo do crescimento.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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