
Marcelo Soares, especial para o Congresso em Foco *
Pela segunda eleição seguida, o estúdio de inteligência de dados Lagom Data prepara seu agregador de pesquisas para observar de maneira independente o que dizem as diferentes sondagens em nove capitais brasileiras. Neste ano, fora do próprio site da empresa, ele é publicado com exclusividade pelo Congresso em Foco. Os dados serão atualizados até as últimas pesquisas serem publicadas nessas capitais.
Se você se perde olhando os resultados de tantas pesquisas na sua cidade, geralmente com resultados díspares, saiba que não é inesperado. Nunca houve tantas pesquisas registradas, em tantos municípios, como neste ano de 2024. Até o final do prazo máximo para os registros do primeiro turno, no começo desta última semana da corrida, o TSE recebeu 15.127 cadastros de sondagens que poderiam ser publicadas, em 3.495 municípios brasileiros.
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São Paulo foi o município com maior número de sondagens registradas (103), seguido por Belo Horizonte (96), Teresina (89) e Manaus (77). Apenas entre segunda, dia 30, e sábado, dia 5, havia 19 pesquisas registradas para a capital paulista – mais de três por dia, todas com resultados diferentes. É bastante natural que o eleitor fique perdido no meio desse tiroteio.
Por isso, desde o começo do ano, a Lagom Data começou a acompanhar a história coletiva que as pesquisas contam em nove capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Curitiba, Manaus, Teresina e Vitória. Elas foram escolhidas geralmente pela sua importância e quantidade de pesquisas.
Como acompanhar o que exatamente dizem essas pesquisas? Na paixão do momento, eleitores mais fiéis podem abraçar o melhor resultado do seu candidato e tratá-lo como a mais pura expressão da verdade. Eleitores menos engajados, que são a maioria, podem ficar confusos. Mas sempre podemos observar o conjunto da obra.
Uma maneira bastante comum, internacionalmente, é agregar as médias dos resultados. Se uma atira para cima e outra atira para baixo, vale a pena ver o que está no meio. Quando os resultados são próximos, eles geralmente estarão perto desse meio.
Nada disso garante a certeza de que aquele será o resultado da eleição, porque nenhuma pesquisa prevê o futuro. Toda pesquisa, por definição, está sempre errada, no mínimo dentro de uma margem de erro estatisticamente calculada, mas muita coisa externa à estatística pode interferir no resultado. Com uma boa metodologia, uma amostra bem definida e boa vontade dos entrevistados, ela pode chegar perto de captar o que as pessoas estão pensando naquele momento específico, de acordo com o que sabem até ali.
Até a urna, muita coisa pode mudar. Por isso, a média das pesquisas tenta ver como a história contada pelos diferentes institutos foi mudando ao longo do tempo.
Os institutos merecem uma observação à parte. Por diversos motivos, especialmente de custos mas não só, as empresas que tinham maior tradição em pesquisa estão neste ano entre as que menos realizaram sondagens para publicação.
A empresa que mais registrou pesquisas neste ano, o instituto Veritá, é a que mais foi contestada em anos anteriores – e também é a que menos publica. Em todas as capitais observadas, seus resultados sempre discrepam tanto da média que preferimos não incluí-los. Mas estamos incluindo os resultados do “100% Cidades”, novo nome do instituto Futura – o das famosas pesquisas Futura/Modal de 2022. Exceto pelas últimas duas rodadas, eles se mantinham bastante próximos da média.
Todos os outros que mais produziram pesquisas neste ano são institutos que em eleições passadas, desde 2014, tumultuaram alguma eleição com resultados muito diferentes do que mostrava a média. Em comum, eles têm o fato de que pouco revelam quem paga pelas suas sondagens – geralmente registram fazer com “recursos próprios” o que é uma operação bastante cara especialmente se feita com frequência e em muitos lugares. Como eles não revelam quem são os financiadores, não fica claro de onde vem tanto dinheiro.
A média, hoje, é composta principalmente por esses institutos, porque são os que estão publicando.
NOTAS SOBRE AS CAPITAIS
Vamos ver algumas anotações a partir das pesquisas agregadas pela Lagom Data:
São Paulo
É a cidade com maior número de pesquisas no Brasil, o que é esperado por ser o maior PIB municipal do país. A disputa tem sido bastante tumultuada, incluindo debates com agressões entre candidatos e seus assessores e uma queda-de-braço pela herança do eleitorado bolsonarista.
Em média, os resultados dos três principais candidatos estão muito próximos dentro das margens de erro: o atual prefeito Ricardo Nunes aparece quase um ponto à frente do psolista Guilherme Boulos, que aparece um ponto à frente do coach Fábio Marçal. Dois deles devem ir ao segundo turno, mas pela leitura das pesquisas seria difícil dizer quais.
Marçal está à frente na Veritá, que ele mesmo enviou à imprensa na última rodada, e empata com Nunes na Futura. Boulos lidera dentro da margem de erro na RealTime/Terra e Datafolha; na AtlasIntel, ultrapassa a margem de erro contra Nunes. O atual prefeito fica na frente na VoxBrasil, Paraná Pesquisas, RealTime/Record e Fesp/SP. Tanto na RealTime quanto no Datafolha, o começo da semana trouxe Nunes à frente e o meio da semana trouxe Boulos.
Fora dos três, que reúnem mais de dois terços das intenções de voto, pode haver surpresas no terço seguinte. Os eleitores que dizem não ter candidato (brancos, nulos e “não sei”) variam muito de uma pesquisa a outra, muito além da margem de erro. Em média, quase 9% dos entrevistados não citam o nome de candidatos, mas na última AtlasIntel, eram 2,5%; na última Quaest, 14%; no Datafolha, 9%. A diferença nas metodologias pode explicar parte dessa discrepância, mas dificilmente toda.
Rio de Janeiro
A maioria das pesquisas indica que pode não haver segundo turno e o prefeito Eduardo Paes poderá deixar a campanha de lado já na noite de domingo. Ele chega a 58 pontos na pesquisa Futura e cai para 49 na AtlasIntel.
Em segundo lugar está Alexandre Ramagem, apoiado por Bolsonaro. Apenas nas últimas semanas sua candidatura começou a crescer nas pesquisas, após apoio explícito do ex-presidente. Na AtlasIntel, Ramagem chega a 32 pontos. Na Prefab Future, contratada pelo Diário do Rio, ele fica com 14,4.
O deputado Tarcísio Motta, em terceiro lugar, tem resultados consistentemente baixos nas pesquisas. Seu melhor desempenho é na AtlasIntel, onde atingiu 8,9 pontos na semana passada. O pior foi no último Datafolha, em que ficou com 4 pontos.
No Rio, como em São Paulo, há muita discrepância na proporção de eleitores que não citam candidatos. São em média 10,4%, variando de 3,1% na AtlasIntel a 18,4% na Prefab Future.
* Marcelo Soares é um dos pioneiros do jornalismo de dados no Brasil e dirige o estúdio de inteligência de dados Lagom Data. Conheça: www.lagomdata.com.br