Em um movimento que lembra a combustão de um motor, carros se colocam em movimento nas ruas, mas o verdadeiro deslocamento começa a partir de uma conexão única entre indivíduos, sem grandes formalidades. “Tá indo pra onde? É? Eu também. Posso ir contigo?”.
Assim se inicia uma jornada de carona, um gesto que vai além de simplesmente compartilhar um veículo, tornando-se uma experiência especial sobre rodas. A gentileza de amigos ao oferecer carona nos leva a refletir sobre a importância desses momentos, como as lembranças de caronas com a Flávia.
Com moradias próximas e um longo percurso diário até o trabalho, a rotina de deslocamento de 70 km por dia se transformava em uma jornada cheia de aventuras. O combinado era simples: “Então vamos?”. “Vamos!”. E assim seguíamos, com a gasolina dividida e um encontro marcado no ponto de encontro habitual.
No caminho, a bordo de um Fox preto, Flávia e eu compartilhávamos histórias e mantimentos, nos preparando para qualquer eventualidade que surgisse durante a viagem. Entre playlists diversas e conversas sobre vida pessoal, sonhos e experiências, nossa conexão se fortalecia a cada quilômetro percorrido.
Por meio de diálogos sinceros, abordávamos temas profundos, desde família até eventos marcantes em nossas vidas. Enquanto eu planejava ter filhos, Flávia já era mãe de duas meninas e compartilhava histórias de superação e coragem, como a lembrança dolorosa da ditadura militar. Nossas diferenças e semelhanças se entrelaçavam nesse trajeto diário.
No entanto, um dia tudo mudou. Com a notícia da doença de Flávia, fui eu quem ofereceu carona, mas ela preferiu seguir seu caminho sozinha, deixando para trás uma amizade que transcendeu os simples deslocamentos de carro. Apesar de seu adeus precoce, prefiro imaginar Flávia seguindo por novos caminhos, sempre presente em minhas lembranças.
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