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Viúva de ex-diretor da Caixa busca justiça após suicídio; processo judicial pode estabelecer precedente inédito no Brasil.

Entrevista Exclusiva: Viúva de Diretor da Caixa Revela Detalhes após Suicídio

Esta entrevista trata de temas como suicídio e assédio moral

Exatamente 21 dias depois do escândalo de assédio sexual e moral envolvendo a gestão de Pedro Guimarães na Caixa, a vida da bancária Edneide Lisboa também entrou em crise, quando o marido dela, Sérgio Batista, cometeu suicídio na sede do banco, em Brasília.

Funcionário de carreira da Caixa, Sérgio já tinha sido assessor de três presidentes e, desde março daquele ano, estava à frente da Diretoria de Controles Internos e Integridade, área que recebia as denúncias e as encaminhava para a corregedoria.

Mais de dois anos após o episódio, Edneide falou com exclusividade à Folha. A viúva tem agora ao menos três objetivos: honrar o nome do marido, deixando claro que ele não estava envolvido com eventuais crimes da gestão, garantir que isso não se repita na Caixa e ampliar a discussão sobre saúde mental.

Entrevista Exclusiva

É a primeira vez que você dá entrevista. Por que tomou essa decisão?
A morte do Sérgio foi algo muito silencioso. Gostaria de levar a mensagem de que não é esse o melhor caminho para resolver qualquer situação, principalmente agora que a gente está no Setembro Amarelo, em que se fala muito de suicídio. Que essa voz chegue a quem precisa de acalanto e força para continuar.

Em que momento decidiu acionar a Justiça?
A Justiça precisa ser coerente com o que aconteceu. Minha força vem da crença de que tudo vai ser resolvido e esclarecido. Busco justiça também para atingir o coletivo, para chegar a outras pessoas e até a colegas dele que podem estar passando por situação semelhante.

A informação é de que a sra. pede indenização de R$ 40 milhões à Caixa e de que houve decisão favorável, mas não nesse valor. O que a sra. pode dizer?
O processo está em sigilo. A questão não é tanto o valor. Não é simplesmente uma ação trabalhista. Porque dinheiro nenhum vai trazer o Sérgio de volta, dinheiro nenhum vai pagar a dor, a destruição de uma família. E dinheiro nenhum também vai pagar a dor que o Sérgio sentiu. A angústia. [Ver e ouvir] tudo calado ali. Foi dilacerante para ele isso, até ele tomar essa decisão de tirar a própria vida. É isso que eu posso falar.

Em que momento percebeu a gravidade do que havia acontecido na Caixa?
O Sérgio sempre foi uma pessoa muito discreta com relação ao trabalho, até pela função que ele tinha. Ele é muito ético, não comentava. Mas, no dia que estourou o escândalo, ele chegou em casa apreensivo. Ligou a TV falando: ‘Olha o que está acontecendo na Caixa. Está pegando fogo lá. Isso tudo é exatamente na minha área, o Ministério Público do Trabalho está lá dentro fazendo as investigações’. Eu falei pa ra ele: fica tranquilo. Continue trabalhando do jeito que você trabalha, é necessário que isso seja feito. Mas ele nunca comentou nada, até pelos sigilos. Mas eu via uma preocupação dele com relação ao que estava acontecendo, até por ser uma pessoa extremamente responsável.

RAIO-X

Edneide Lisboa, 57

É bancária aposentada da Caixa, onde trabalhou durante 31 anos, e viúva do ex-diretor de Controles Internos e Integridade do banco Sérgio Batista, morto em 2022. Mãe de dois filhos.

Caixa diz não tolerar assédio

A Caixa afirmou em nota que não tolera nenhum tipo de assédio, que prestou auxílio à família de Sérgio e que não pode se manifestar sobre o processo em razão do segredo judicial.

“A Caixa informa que fortaleceu seu sistema de governança para investigar denúncias, proteger denunciantes e colaboradores do banco, bem como a própria instituição. Além das medidas judiciais e correcionais, foram reforçadas e implementadas ações de combate às práticas de assédio sexual, moral e discriminação no banco.”

Onde buscar ajuda

O SUS conta com a Rede de Atenção Psicossocial, voltada para pessoas em sofrimento psíquico ou com necessidades decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas. A rede inclui, entre outros pontos de acolhimento, as UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

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