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Família Brazão continua influente no cenário político do Rio de Janeiro, apesar das prisões e acusações de envolvimento na morte de Marielle Franco.

Prisão não afasta sobrenome Brazão das urnas

A prisão das principais lideranças da família Brazão no Rio de Janeiro sob acusação de mandar matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) não tirou o sobrenome das urnas. O pleito deste ano tem dois candidatos que exploram a marca do grupo político, embora a disputa tenha acusações mútuas de traição.

Kaio Brazão (Republicanos), 23, filho de Domingos Brazão, disputa pela primeira vez uma vaga na Câmara Municipal. O vereador Waldir Brazão (União), que usa o sobrenome mas não é membro da família, busca a reeleição à revelia do clã.

Os dois exploram o sobrenome atualmente associado ao homicídio de Marielle e seu motorista Anderson Gomes. Domingos, conselheiro do TCE-RJ, e o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) estão presos desde março e respondem a ação penal no STF (Supremo Tribunal Federal). Eles negam participação no crime.

A pré-candidatura de Kaio vinha sendo trabalhada desde o ano passado, quando as investigações da Polícia Federal ainda engatinhavam em direção à família. Ele chegou a ter a participação do prefeito Eduardo Paes (PSD) num dos eventos usados para divulgar seu nome nos bairros de atuação do grupo.

O plano do grupo político, à época, era triplicar sua influência na Câmara. Além de eleger Kaio e reeleger Waldir, o objetivo era também auxiliar na vitória de Guilherme Bencardino (Republicanos), vinculado ao grupo. A estratégia era dividir as áreas de influência e equipes da família na cidade entre os três.

A prisão de Domingos e Chiquinho exigiu uma mudança de planos. Kaio teve a candidatura mantida e foi comunicado a Waldir que não seria possível manter mais de um nome na disputa, em razão do provável impacto junto aos eleitores. O vereador não aceitou abrir mão da reeleição e rompeu com o grupo.

No início de setembro, ele exonerou pessoas ligadas à família de seu gabinete. Em suas redes sociais, expôs de forma velada o rompimento com o grupo a que estava ligado desde 1996 —ele já foi chefe de gabinete de Domingos e Chiquinho.

“Apesar de todos os problemas, eu creio que essas pessoas que aqui estão vão nos impulsionar e nos ajudar. […] A gente crê que estamos virando uma chave e que a partir daqui é esse grupo novo que vai determinar o nosso alcance, nossa vitória e para onde vamos juntos”, afirmou ele, em vídeo publicado três dias depois de exonerar os membros da família Brazão.

Apesar do rompimento, ele manteve o uso do sobrenome. À Folha, ele disse que a marca Brazão “atrapalha mais do que ajuda”.

“Não tem como colocar nome em dois ou três meses antes da campanha. Precisaria de anos. Eu só sei que faço campanha por vocação e vontade. Me preparei, estudei, sou historiador e sociólogo. Eu vou brigar para manter o meu mandato”, disse ele.

Kaio tem vocalizado a defesa do pai e do tio na campanha. No evento de lançamento de sua candidatura, no Clube dos Portugueses, na Taquara (zona oeste), ele vestia uma camisa com a foto dos dois e o texto: “Liberdade aos irmãos Brazão”.

“A campanha continua, afinal, o trabalho da minha família pelo social e no desenvolvimento da cidade, principalmente em Jacarepaguá, é notório. Qualquer um pode constatar. Nas caminhadas pela cidade tenho recebido um carinho muito grande das pessoas. Muitas têm convicção dessa injustiça que estamos sofrendo. A verdade já está aparecendo e num futuro breve o meu pai e meu tio estarão aqui com a gente”, disse ele, em nota.

A candidatura, porém, sofre problemas judiciais. Ele teve o registro de candidatura indeferido sob a justificativa de que seria um herdeiro de um curral eleitoral mantido pela família em Rio das Pedras.

“Não resta dúvida de que a pretensa candidatura corresponde à prática de currais eleitorais, que aniquilam a liberdade de voto. De outro lado, toda a articulação do requerente com o poderio já exercido pela família Brazão, além da sua proposta pessoal de perpetuação desse poder maculam a vida pregressa do requerente, a probidade administrativa e moralidade para o exercício do mandato”, afirmou a juíza Maria Paula Galhardo na decisão.

O indeferimento da candidatura faz parte do endurecimento da Lei da Ficha Limpa adotado na Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro. Juízes têm indeferido o registro de pessoas com acusações de envolvimento com organizações criminosas. Kaio, contudo, não é réu em nenhum processo criminal. Ele recorre da decisão.

A família Brazão conseguiu manter influência política mesmo com a suspeita sobre Domingos desde o primeiro ano da investigação.

Um irmão dos dois acusados, Pedro (União Brasil), sobre o qual não recai suspeitas, mantém mandato na Assembleia Legislativa.

Chiquinho chegou a ser nomeado secretário na gestão Paes no ano passado, mas foi exonerado em fevereiro, um mês antes da prisão. Ainda assim, manteve aliados em cargos na prefeitura com seu sucessor, também indicado por seu grupo político. Todos só foram exonerados após a prisão dos irmãos.

A família mantém representação na gestão Cláudio Castro (PL) mesmo depois da detenção, Flávio Brazão, sobrinho de Domingos, é mantido como diretor da Companhia Estadual de Habitação.

Flávio afirmou que sua permanência é “fruto do trabalho que venho desenvolvendo e dos resultados colhidos”. “A aprovação da minha nomeação foi aprovada em conselho independente e com capacidade para avaliar meu currículo.”

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