Livro de Vera Iaconelli debate a idealização da felicidade e os sintomas da sociedade contemporânea em lançamento neste sábado

A Idealização da Felicidade na Sociedade Contemporânea

No cenário atual, a busca incessante pela felicidade tem se transformado em um platô na sociedade contemporânea, trazendo consigo uma série de sintomas e pressões que afetam diretamente o bem-estar e a saúde mental dos indivíduos.

Esse fenômeno está intrinsecamente ligado à romantização da parentalidade, à polarização política e à imposição de normas sociais sobre gênero e sexualidade, especialmente para mulheres e pessoas LGBTQIA+.

Para discorrer sobre essas questões, a psicanalista Vera Iaconelli lança seu mais recente livro, “Felicidade Ordinária”, reunindo mais de 90 textos previamente publicados em uma coluna no jornal. O lançamento está marcado para este sábado (21) na livraria Bibla, em São Paulo.

Iaconelli utiliza a psicanálise como uma ferramenta para explorar questões íntimas e ampliar discussões sobre feminismo e parentalidade, enfatizando a conexão entre sofrimento individual e tensões sociais.

Segundo a autora, a felicidade se tornou um produto a ser adquirido, muitas vezes de forma ilusória, mediante a compra de objetos ou a busca por um bem-estar momentâneo. Essa visão contrasta com a perspectiva freudiana de que a felicidade é episódica e fugaz, sendo o sofrimento uma condição inerente à existência humana.

Freud criticava o consumismo como uma forma de buscar satisfação para desejos inconscientes, ressaltando que essa satisfação é temporária e não preenche as necessidades psíquicas, contribuindo para o mal-estar na sociedade.

No contexto abordado por Iaconelli, dentro da lógica capitalista destacada por Silvia Federici, estereótipos de gênero são reforçados, incentivando as mulheres a se conformarem com papéis tradicionais ligados à maternidade e à domesticidade, por meio da aquisição de produtos que validam tais ideais.

Essa dinâmica de consumo contribui para a manutenção das estruturas de poder patriarcais, transformando as mulheres em consumidoras de bens que as mantêm subordinadas, ao mesmo tempo em que seus corpos e desejos são controlados para atender às necessidades econômicas e políticas dominantes.

A obra de Iaconelli também aborda a sobrecarga feminina nos cuidados, não se limitando apenas ao cuidado dos filhos, mas incluindo também o cuidado de outros membros da família e do parceiro. A solução proposta pela autora vai além de uma redistribuição de responsabilidades entre homens e mulheres, destacando a necessidade de empresas, políticas públicas e toda a sociedade se responsabilizarem pelas próximas gerações.

No livro, temas como feminismo, sexualidade, parentalidade e costumes são explorados, refletindo os desafios contemporâneos enfrentados tanto a nível individual quanto coletivo. Os textos selecionados pela autora refletem seus estudos dos últimos sete anos sobre essas questões tão pertinentes na atualidade.

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