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Entenda por que trocar títulos públicos por taxas maiores não faz sentido: saiba como funciona a marcação a mercado

Análise de Investimentos em Títulos Públicos

Imagine que você comprou uma passagem para uma viagem de trem há alguns meses. O trem está prestes a partir, e enquanto você espera, percebe que a mesma passagem agora está sendo vendida por um valor mais alto. Trocar sua passagem por outra com o preço atual não faria sentido. Afinal, o destino e o conforto do trem continuam os mesmos. No mundo dos investimentos, o título público funciona da mesma forma: mesmo que as taxas de juros tenham mudado, o valor do seu título já foi ajustado, e o destino financeiro continua o mesmo. Será que vale a pena trocar?

Atualmente, as taxas de títulos atrelados ao IPCA, como o Tesouro IPCA+ 2035, estão próximas dos níveis mais altos desde 2016. Esse cenário se deve a um estresse no mercado, gerado por incertezas sobre a política fiscal e a possibilidade de o Banco Central (COPOM) elevar os juros além do esperado. Com a taxa real em patamares tão altos, surge a tentação de trocar títulos antigos por novos. No entanto, antes de agir, é fundamental entender como funciona a marcação a mercado.

Os títulos públicos são marcados a mercado, ou seja, o valor do título que você possui já reflete as condições atuais. Mesmo que você tenha adquirido o título com uma taxa inferior, o preço no mercado secundário foi ajustado para que, de hoje até o vencimento, o rendimento seja equivalente à taxa vigente. Portanto, não há necessidade de vender seu título atual para comprar um com a “nova” taxa. O próprio mercado já fez esse ajuste.

O gráfico abaixo do Tesouro IPCA+ 2035 demonstra essa evolução das taxas ao longo dos anos. Percebe-se que poucos investidores nos últimos oito anos compraram esse título com taxas tão elevadas quanto as atuais. Muitos daqueles que adquiriram seus títulos em momentos de taxa mais baixa podem estar desapontados com o desempenho até agora. Como as taxas de juros subiram, estes investidores não obtiveram a rentabilidade contratada até o momento. Eles observam em sua carteira um retorno menor que aquele quando investiram. No entanto, é essencial compreender que, de hoje até o vencimento, o rendimento futuro será o da taxa atual, independentemente de quando o título foi comprado.

Se você considera vender para adquirir um título com taxa maior, lembre-se de que o prejuízo realizado na venda não pode ser abatido de futuros lucros, como ocorre no mercado de ações. Logo, vender seu título com prejuízo pode ser uma escolha custosa. Existem, no entanto, algumas situações em que avaliar uma troca pode fazer sentido, como no caso de títulos próximos ao vencimento.

O ponto-chave no investimento de títulos de renda fixa é o horizonte de investimento. Portanto, antes de investir em títulos com vencimento no longo prazo, avalie se não vai precisar deste recurso até o vencimento. Vender seu título para investir no mesmo e tentar “aproveitar” as taxas atuais não faz sentido, uma vez que o rendimento de agora já está refletido no preço do título que você possui. Evite decisões precipitadas e concentre-se na estratégia que melhor se alinha com o seu horizonte de investimentos.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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