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A complexa regulação do peso corporal humano: Genes, alimentação e atividade física influenciam na balança do corpo, mas aves parecem ter segredo.

Os mecanismos que regulam o peso corporal da espécie humana são complexos. Da globalização à motivação individual, passando pela política pública e pelos genes, há muitos fatores em jogo, incluindo o desconhecido. Mas uma coisa é certa como a primeira lei da termodinâmica: se o nosso gasto de energia é superado pelo consumo, ganhamos peso; e se o inverso, perdemos. Daí vem o nosso tormento. Como o leitor deve perceber cotidianamente, ingerir calorias é muito mais fácil (e gostoso) do que queimá-las.

Felizes mesmo são os pássaros, posto que equipados com um precioso controle da massa corporal, que parece dissociado das tentações calóricas. Momentos antes de migrarem ou na imprevisibilidade de obtenção de alimento, as aves aumentam sua massa; por outro lado, quando pressionadas por predadores, elas são capazes de eliminar o excesso de peso facilmente. Como isso ocorre ainda é um mistério.

Em busca de pistas, cientistas elaboraram um experimento em que uma mochila com chumbos foi fixada ao corpo de simpáticos indivíduos da espécie Taeniopygia guttata, mais conhecida como mandarim. Com a percepção de aumento da massa corporal induzida pelo artefato, as aves perderam peso imediatamente (entre 0 e 2 dias), mesmo tendo-lhes sido oferecida uma dieta rica em gordura. Bom lembrar que em mamíferos –humanos inclusos– a exposição a dietas hipercalóricas resulta, infalivelmente, em acúmulo de peso.

Como qualquer aumento de massa poderia representar uma ameaça aerodinâmica, especula-se que as aves tenham desenvolvido um sofisticado sistema de sensores mecânicos capazes de monitorar ganhos de peso e, diante disso, deflagrar rápidas respostas compensatórias.

O que intriga é que, no estudo citado, os pássaros que perdem peso não comeram menos nem se tornaram mais ativos. Como explicar? Os pesquisadores sugerem uma possível redução na eficiência digestiva (o que reduziria a metabolização das calorias dos alimentos) ou um incremento no gasto calórico por mecanismos, por assim dizer, automatizados (o que elevaria a quantidade de energia necessária para manter as funções vitais). Como nada disso foi avaliado na pesquisa, a regulação de peso dos pássaros segue sendo um processo tão fascinante quanto enigmático.

Se a evolução forjou genes aviários altamente eficazes em prevenir o ganho de peso, o mesmo não se deu com humanos. Acredita-se que a convivência em grupos e o domínio do fogo e das armas devam ter protegido nossos antepassados rechonchudos contra predadores mais esguios e ágeis. Segundo essa teoria, nossa espécie –armada e em bando– teria se dado ao luxo de sobreviver e se reproduzir sem a necessidade de um aparato biológico capaz de impedir a obesidade.

Quem imaginaria que a sociabilidade e a astúcia dos nossos ancestrais seriam a perdição do homem moderno. E que as aves –essas pobres diabas sujeitas a toda sorte de aperreios aéreos– seriam hoje contempladas por sua natural esbelteza, um mimo da evolução que só nos resta invejar.


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