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Decisões de Política Monetária nos EUA e Brasil: Bancos Centrais Seguem Caminhos Opostos em Meio a Incertezas Econômicas

Decisões de Política Monetária nos EUA e no Brasil

Nesta quarta-feira (18), tivemos as tão esperadas decisões de política monetária nos Estados Unidos (EUA) e no Brasil. Enquanto o Fed cortou a taxa dos Fed Funds em 0,50 ponto percentual, após mais de um ano em 5,5%, nosso Banco Central elevou a Selic de 10,50% para 10,75%, depois de mantê-la estável por apenas quatro meses. É razoável que os ciclos monetários sigam em direções opostas depois da sincronia vista no pós-pandemia? Quão bem-sucedidos serão esses bancos centrais em seus objetivos?

A resposta para ambas as perguntas depende do comprometimento das autoridades monetárias com suas metas. No caso do Fed, o mandato é duplo: estabilidade de preços e máximo emprego. Já o objetivo principal do BC brasileiro é assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda, tendo como objetivos secundários a estabilidade do sistema financeiro, a suavização das flutuações da atividade e o fomento do pleno emprego.

Nos EUA, diante da inflação dando sinais de melhora e da desaceleração econômica (com menos empregos criados), o Fed iniciou o ciclo de queda dos juros, mas sem sinalizar o ritmo dos próximos passos. Não há dúvidas de que o comitê começou a dar mais peso para o mercado de trabalho em desaceleração e que esses dados guiarão as expectativas tanto para o ritmo de queda quanto para a taxa terminal de juros. Mas tudo isso depende de a inflação permanecer sob controle. Enquanto ela permaneceu alta, o Fed não hesitou em subir ou manter os juros altos. Olhando para 2025 e 2026, o resultado das eleições presidenciais pode impactar a política econômica e, por consequência, a atuação do Fed.

Por aqui, apesar da notícia positiva vinda de fora, nossos fundamentos exigem cautela. Embora um maior diferencial de juros deva levar a um câmbio mais apreciado e a uma menor pressão inflacionária, o resultado não é persistente quando consideramos que nosso prêmio de risco pode voltar a subir com a incerteza fiscal. Além disso, o desempenho da economia surpreende positivamente, o mercado de trabalho está apertado, o crédito se recuperando, as expectativas de inflação seguem desancoradas e ainda há uma enorme incerteza sobre o grau de estímulo fiscal nos próximos dois anos. Esses fatores idiossincráticos nos colocam ao lado do Japão, ambos com ciclos monetários em direção oposta ao resto do mundo.

Com o nosso pobre histórico de cumprimento da meta de inflação e as mudanças no comando do BC, a probabilidade de sucesso em manter a inflação perto da meta (objetivo principal) depende, sobretudo, da percepção dos agentes sobre a disposição da autoridade monetária em agir “custe o que custar”. Nesse sentido, o comunicado tentou passar essa mensagem ao sinalizar que ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo serão ditados pela evolução dos dados e pelo compromisso de convergência da inflação à meta, sem gradualismo ou moderação.

Até o momento, a avaliação predominante do mercado é que nosso ciclo de alta de juros não será agressivo. O consenso acredita que partimos de um nível elevado de juros reais, que o diferencial de juros só aumentará, o ritmo de crescimento dos gastos poderá ser menor, a atividade desacelerará e, por fim, as expectativas deverão ao menos parar de subir. No entanto, tudo isso depende de uma ajuda relevante no front fiscal, com controle efetivo de gastos, não apenas com arrecadação extraordinária ou pente-fino, e de um pouso suave da economia americana com a inflação controlada.

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