
Demissão de Ministro por Assédio Sexual é Inédita na História do Brasil
Uma pesquisa realizada na Universidade de Brasília (UnB) revelou que a demissão de Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos foi a primeira por acusação de assédio sexual entre ministros do governo federal desde a redemocratização, em 1985. O estudo, coordenado pelo professor Wladimir Gramacho, da Faculdade de Comunicação da UnB, analisou mais de 14 mil edições do jornal Folha, desde o início da presidência de José Sarney em 1985.
De acordo com a pesquisa, ministros já estiveram envolvidos em mais de 500 crises de imagem ao longo dos anos, porém, nenhuma delas havia sido motivada por questões de teor sexual. Gramacho ressalta que as mudanças sociais e políticas ao longo das décadas trouxeram à tona temas como questões de gênero, patriarcado e machismo, contribuindo para o ineditismo da situação envolvendo a saída de Almeida do governo.
A demissão de Almeida aconteceu após acusações de assédio sexual, encaminhadas para a organização Me Too Brasil, sendo uma das vítimas a titular da Igualdade Racial, Anielle Franco. Situações de crise por motivos sexuais são comuns em países como Inglaterra e Estados Unidos, mas são raros na política brasileira, com episódios anteriores tendo motivações diferentes, como corrupção e quebra de sigilo bancário, destacando-se casos envolvendo ex-ministros como Antônio Palocci e Bernardo Cabral.
O estudo classifica as crises de imagem em dois grupos: morais, que envolvem corrupção e abusos de poder, e não morais, como crises por mau desempenho. Segundo a pesquisa, o controle da inflação e o fortalecimento da burocracia do Estado ao longo dos anos contribuíram para a diminuição das crises por mau desempenho, tornando os ministros menos vulneráveis.
No entanto, mesmo em um cenário de menor incidência de crises, casos como o do ex-ministro da Economia Paulo Guedes, com 24 crises, destacam-se pela turbulência de suas gestões. A pesquisa aponta que Guedes conseguiu se manter no cargo devido à sua importância para o governo Bolsonaro.
O estudo da UnB analisa também outros indicadores, como o ministro com maior número de crises (Paulo Guedes), a gestão mais turbulenta (Romero Jucá) e a crise mais longa envolvendo um ministro (Alceni Guerra). Esses dados ajudam a compreender a dinâmica das crises de imagem enfrentadas pelos ministros ao longo dos governos no Brasil.