Impasse nas eleições argelinas
No último domingo (8), a Argélia se viu em meio a um impasse político após os números das eleições serem contestados pelos principais candidatos do pleito. Abdelmadjid Tebboune, atual presidente do país africano e suposto vencedor, viu sua vitória ser questionada devido à taxa de comparecimento dos eleitores.
O imbróglio se deu principalmente em relação à participação dos eleitores, que não atingiu os números desejados. Em 2019, na última vitória de Tebboune, apenas 39,9% do eleitorado compareceu às urnas, em meio a um cenário de boicote.
No sábado (7), as autoridades eleitorais afirmaram que 48% dos eleitores haviam votado, o que seria suficiente para superar a participação das eleições anteriores. Entretanto, no dia seguinte, essas mesmas autoridades declararam que apenas 23,3% do eleitorado havia participado do pleito, o que gerou questionamentos por parte dos adversários de Tebboune.
Os principais opositores do presidente denunciaram os resultados como farsa. Abdelali Hassani Cherif, do Movimento Sociedade pela Paz, e Youcef Aouchiche, da Frente das Forças Socialistas, contestaram os números divulgados pelas autoridades eleitorais, alegando que seus candidatos haviam recebido mais votos do que o anunciado.
De forma inédita, as equipes de campanha dos três candidatos emitiram um comunicado conjunto denunciando as irregularidades nos resultados e alertando para a imprecisão dos números divulgados. Embora as contestações dificilmente mudem o resultado final, as eleições na Argélia estão envoltas em polêmica.
A reeleição de Tebboune era esperada, ainda mais após a eliminação de mais de dez candidaturas pelo órgão eleitoral. Sua continuidade no poder indica que a Argélia provavelmente seguirá com um programa de governo focado em retomar gastos sociais com base nas receitas de energia.
Na esfera política, a vitória de Tebboune coloca a Argélia em linha com outros países do norte da África que tentaram promover mudanças após a Primavera Árabe, mas acabaram sendo governados por líderes autoritários ligados às Forças Armadas.
Os protestos no país, que exigiam o fim da corrupção e a renovação da elite governante, foram interrompidos pela pandemia de Covid-19. Atualmente, Tebboune adota uma postura rígida, apoiando a repressão exercida pelas forças de segurança.
Apesar do favoritismo do atual presidente, parte da população expressa descontentamento com a classe política. Muitos cidadãos, como Slimane, de 24 anos, da comuna de Ouled Fayet, mostram desconfiança em relação aos políticos e optam por não participar do processo eleitoral.