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China e África: A Cúpula e a TV por Satélite
No início de setembro, enquanto os líderes africanos se reuniam em Pequim para a cúpula entre China e África, o presidente Xi Jinping tinha um trunfo para exibir: a TV por satélite. Nove anos atrás, durante o Fórum de Cooperação Sino-Africana em Joanesburgo, Xi prometeu acesso à TV digital para mais de 10 mil aldeias remotas em 23 países africanos. Hoje, mais de 9,6 mil aldeias já desfrutam dessa infraestrutura.
Financiado pela China, o ambicioso projeto foi confiado à empresa privada StarTimes, atuante em vários países africanos. Essa iniciativa foi vista como uma estratégia de soft power chinesa na região, promovendo laços culturais em um contexto de crescente presença chinesa na África.
A Experiência no Quênia
Visitando aldeias no Quênia, a BBC constatou resultados mistos. Moradores como Nicholas Nguku, de Olasiti, comemoraram a chegada da TV digital, permitindo o acesso a eventos como as Olimpíadas. No país, a StarTimes se tornou um dos principais provedores de TV digital, com pacotes acessíveis que conquistaram muitos assinantes.
Porém, o entusiasmo inicial esbarrou em obstáculos financeiros. Após um período de gratuidade, muitos se viram incapazes de arcar com os custos das assinaturas, reduzindo o impacto positivo esperado pela China.
Conteúdo e Desafios
Além dos desafios financeiros, a oferta de conteúdo da StarTimes gerou opiniões divergentes. Enquanto alguns se encantam com programas chineses, como a série “Eternal Love”, outros criticam a falta de atualização e estereotipação nas produções. O futebol se destaca como o conteúdo mais popular, mas a concorrência no mercado é acirrada.
Soft Power em Debate
Apesar dos esforços da StarTimes em se apresentar como uma empresa local, a presença chinesa ainda é evidente. A tentativa de promover uma imagem positiva da China na África enfrenta desafios, com críticas sobre o real benefício do projeto para o governo chinês.
Enquanto o projeto das 10 mil aldeias foi uma vez o centro das atenções, hoje parece ter se tornado apenas um detalhe na complexa teia de relações sino-africanas. Por mais que venha da China, a verdadeira avaliação está nas mãos dos africanos que decidem aderir ou não ao serviço de TV por satélite da StarTimes.