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O desenrolar do processo que resultou na demissão do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, teve início na semana passada, quando o presidente Lula (PT) enviou um representante para confrontá-lo.
Lula e a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, já estavam cientes das acusações de assédio contra a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, há pelo menos sete dias.
Intrigado por rumores sobre a conduta de Almeida, Lula instruiu o ministro da CGU (Controladoria-Geral da União), Vinicius Carvalho, a indagá-lo sobre a veracidade das denúncias, sendo claro que em caso de confirmação, Almeida não poderia permanecer no governo.
A reunião entre Carvalho e Almeida ocorreu na semana passada, durante a qual Almeida negou veementemente qualquer ato impróprio. Anielle, por sua vez, ainda não havia formalizado a denúncia, preferindo, segundo relatos, enterrar o caso.
Questionadas, as assessorias de Lula e Janja não se manifestaram sobre o assunto.
Em uma entrevista a uma rádio de Goiânia (GO), o presidente afirmou que só teve conhecimento dos fatos na noite de quinta-feira. Aliados afirmam que ele se referia aos detalhes da denúncia, não aos boatos.
Anielle Franco havia compartilhado com amigos e colegas de governo, entre maio e junho do ano passado, os incidentes envolvendo Silvio Almeida. No entanto, sem provas concretas, ela preferiu não dar continuidade às acusações.
A partir de junho deste ano, Anielle se viu obrigada a alertar integrantes do governo sobre o risco de o caso vir à tona, após ser abordada por jornalistas. Procurada por uma colunista em junho, ela não confirmou nem negou o ocorrido.
A demissão de Silvio Almeida foi anunciada na sexta-feira pelo presidente Lula, um dia após as acusações virem a público. A organização Me Too Brasil confirmou ter recebido as denúncias, mas preservou a identidade das denunciantes.
Almeida negou veementemente as acusações em notas e vídeos nas redes sociais, garantindo que as denúncias seriam investigadas por instâncias do governo federal.
Anielle Franco, em suas redes sociais, critiou tentativas de culpabilização e constrangimento das vítimas, afirmando que tais atitudes alimentam a violência. Integrantes do Ministério dos Direitos Humanos revelaram que o Palácio do Planalto tinha conhecimento das suspeitas desde janeiro.
A primeira-dama, Janja, indicou a demissão de Almeida em uma postagem após o escândalo ser revelado, e Lula confirmou a decisão durante uma entrevista posterior.
Lula destacou a importância de apurar os fatos corretamente e ressaltou que não era aceitável manter no governo alguém acusado de assédio, em desacordo com os valores de defesa dos direitos humanos e das mulheres.