
Descobertas revelam o antigo paraíso de biodiversidade na Península Ibérica
A Península Ibérica, composta pelos territórios de Portugal e Espanha, foi um verdadeiro paraíso de biodiversidade há cerca de 20 milhões de anos. Pesquisadores apoiados pela Fapesp reconstruíram um cenário surpreendente, no qual animais semelhantes à megafauna africana habitavam a região, incluindo versões ibéricas pré-históricas de rinocerontes, elefantes e felinos, que conviviam em ambientes ricos em presas e predadores.
No entanto, há aproximadamente 15 milhões de anos, as temperaturas na região começaram a cair significativamente, tornando o clima mais árido e impactando a paisagem. A vegetação densa deu lugar a uma paisagem mais aberta, favorecendo os grandes herbívoros, que prosperaram enquanto os animais de médio porte desapareciam. Essas mudanças afetaram a disponibilidade de presas para os carnívoros, tornando a caça mais complicada. A pesquisa, publicada na revista Ecology Letters em junho deste ano, foi liderada por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em colaboração com instituições da Espanha e Suécia.
O estudo analisou a evolução das redes tróficas ao longo de 20 milhões de anos, usando um banco de dados abrangente de mamíferos fósseis da região. Os registros fósseis permitiram aos pesquisadores entender como os ecossistemas mudaram ao longo do tempo e como as espécies evoluíram. João Nascimento, primeiro autor do artigo, destaca a importância dos registros fósseis para reconstruir as interações ecológicas antigas e entender os padrões evolutivos.
Simplificação das redes tróficas
O fenômeno conhecido como simplificação das redes tróficas foi observado na Península Ibérica ao longo dos anos. Esse processo, também chamado de homogeneização, envolve a substituição de espécies especialistas por generalistas. As mudanças nas comunidades de herbívoros afetaram diretamente a longevidade dos predadores, que corriam maior risco de extinção quando enfrentavam escassez de presas.
O estudo ressalta a importância de conservar populações diversas de presas para garantir a sobrevivência dos predadores e manter ecossistemas saudáveis. Os pesquisadores alertam para os efeitos em cascata que a extinção de espécies pode causar nos ecossistemas e defendem a necessidade de intervenção para evitar novas extinções.
Em suma, as descobertas proporcionaram um olhar único sobre o passado da Península Ibérica e ajudam a orientar estratégias de conservação para preservar a biodiversidade e os ecossistemas atuais.