
No complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, as escolas públicas enfrentam um período de 15 dias de fechamento total ou parcial devido a operações policiais diárias. Essa situação tem gerado impactos significativos não apenas no ensino, mas também na alimentação e saúde das crianças.
Com a suspensão das atividades escolares, as famílias nas proximidades têm relatos de dificuldade para manter a rotina alimentar, uma vez que as escolas municipais e estaduais fornecem refeições como café da manhã e almoço para os alunos. A Maré possui 49 escolas públicas que atendem quase 20 mil estudantes.
A Redes da Maré, organização local, relata que há casos graves de insegurança alimentar entre as crianças afetadas pelo fechamento das escolas.
A situação não se limita apenas à questão da alimentação, mas também afeta a saúde mental dos moradores. Rosana da Silva Paixão de Melo, mãe de uma criança de 5 anos com síndrome de Down, conta que a suspensão das aulas impediu sua filha de frequentar a terapia essencial, o que pode resultar em sua exclusão do programa.
Moradora da Nova Holanda, Rosana enfrenta o desafio de conciliar seu trabalho precário com o aumento dos gastos familiares devido à ausência das refeições escolares. A insegurança gerada pelas operações policiais na região tem afetado diretamente a vida de milhares de pessoas.
Na última operação policial realizada, três suspeitos foram mortos e cinco presos, com apreensão de seis fuzis. Por questões de segurança, 42 escolas municipais e uma estadual foram fechadas. A ação visa a demolir um conjunto habitacional construído com recursos do tráfico, e durante as operações a polícia encontrou quase 2 toneladas de drogas escondidas em escolas locais.
A insegurança também levou postos de saúde e escolas a adotarem um protocolo de “acesso seguro” determinado pela prefeitura, onde agentes comunitários deixam de circular e as escolas permanecem fechadas até a situação se acalmar.
O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, ressalta que a decisão de fechar ou abrir as escolas é tomada diariamente, levando em consideração a segurança dos alunos e funcionários. Andreia Martins, membro da Redes da Maré, destaca os impactos da violência na vida dos professores e alunos locais.
Diante do cenário de constantes operações policiais na região, o Ministério da Educação propôs a criação de um grupo de trabalho para discutir o impacto dessas ações na educação. O tema também se tornou um ponto de debate na campanha eleitoral municipal.
Apesar dos desafios enfrentados, o município busca formas de manter o ensino em meio à crise, com programas de reforço escolar e aulas online disponíveis para os alunos. No entanto, para muitos moradores, como aponta Andreia Martins, as aulas remotas não são uma solução viável devido à falta de acesso à internet nas comunidades.