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Disputa pelo controle do MAS ameaça governabilidade da Bolívia e a estabilidade democrática na América do Sul

A crise política enfrentada pelo Movimento ao Socialismo (MAS) na Bolívia representa uma ameaça à governabilidade do país e à estabilidade da democracia na América do Sul. A disputa pelo controle do partido de esquerda indigenista levanta preocupações sobre a constitucionalidade da Bolívia e facilita um possível golpe de estado.

O setor liderado por Luis Arce obteve uma vitória ao conseguir a anulação da candidatura de Evo Morales pelo Tribunal Constitucional. No entanto, os seguidores de Morales denunciaram a decisão como fraudulenta. Agora, a bola está nas mãos do Tribunal Eleitoral, que determinará que o MAS organize um novo congresso. Caso contrário, o partido corre o risco de ter sua sigla cancelada, o que geraria uma instabilidade política de grandes proporções.

Com a oposição profundamente dividida, não surgem modelos alternativos para resolver a crise no movimento popular boliviano. No entanto, o tempo urge e a falta de uma solução pode levar o país a uma nova crise constitucional.

As eleições de 2020, realizadas após o golpe de Estado na Bolívia, trouxeram o MAS de volta ao poder. No entanto, não foram capazes de reparar todos os danos causados pela crise de 2019. Agora, a divisão dentro do próprio MAS se torna uma nova ruptura que ameaça o caminho de Evo Morales.

Morales, um líder político experiente, enfrenta o desafio de lidar com um partido que não o vê mais como necessário. Sua denúncia de perseguição judicial e a falta de eficácia do governo são vistas por muitos como simplistas, diminuindo sua imagem.

A incapacidade de transformar a força social em medidas concretas de transformação social é uma das críticas apontadas por René Zavaleta, sociólogo boliviano. Esse movimento popular, que derrota o regime neoliberal e age como força social nas eleições, parece desaparecer no dia seguinte.

A relação entre Morales e Arce, que antes era de sucesso, agora está rompida. Arce decidiu se distanciar de seu mentor e relegá-lo a um papel secundário na tomada de decisões políticas. Morales interpreta isso como uma traição. A expulsão de Arce, juntamente com outros deputados pró-governo, foi o culminar dessa luta interna.

Os dirigentes das organizações de produtores de coca já ameaçaram adotar ações radicais caso Evo seja impedido de concorrer em 2025. Arce, por sua vez, enfrenta o desafio de manter o apoio popular sem descuidar da gestão do país.

Para superar a atual fratura, tanto Evo quanto Arce precisam recuar. Poderiam ser substituídos pela próxima geração de líderes, como Andrónico Rodríguez, vice-presidente da Federação de Cocaleiros do Trópico de Cochabamba, e pelas mulheres líderes como Adriana Salvatierra, Eva Copa e Gabriela Montaño.

A crise interna enfrentada pelo MAS requer uma discussão sobre novas agendas políticas que abordem questões essenciais, como a melhoria da qualidade dos serviços educacionais e de saúde, a reforma do sistema de justiça e o fortalecimento dos direitos democráticos das mulheres, jovens e povos indígenas. A passividade diante das disputas políticas só levará à divisão, à descrença e, eventualmente, à derrota.

A Bolívia está diante de um momento crucial em sua governabilidade. A solução para a crise enfrentada pelo MAS deve ser encontrada para evitar uma ruptura constitucional e uma ameaça renovada à democracia na região sul-americana.

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